Idade do Ferro (1937-1948)


1937 – Viaja até França, Itália , Bélgica, passando pela Espanha franquista.

1937 – Publica a «Criação do Mundo – Primeiro e Segundo Dia».

     

1938
– Publica «Criação do Mundo – Terceiro Dia». Especializa-se em otorrinolaringologia;

    

1939 – Começa a exercer em Leiria como otorrinolaringologista;

 

Federico Garcia Lorca

Garcia Lorca, irmão:
Sou eu, mais uma vez…
Venho negar à humana condição
A humana pequenez
Da ingratidão.

Venho e virei enquanto houver poesia,
Povo e sonho na Ibéria.
Venho e virei à tua romaria
Oferecer-te a miséria
Duma oração lusíada e sombria.

Venho, talefe branco da Nevada,
Filho novo de Espanha!
Venho, e não digas nada;
Deixa um pobre poeta da montanha
Trazer torgas à rosa de Granada!

Indomável cigano
Dos caminhos do tempo e da ventura,
Sensual e profano,
O teu génio floresce cada ano…
Venho ver-te crescer da sepultura!

Bruxo das trevas onde alguém te quis,
Nelas arde a paixão do que escreveste!
Sete palmos de terra, e nenhum diz
Que secou a raiz,
Que partiste ou morreste!

Uma luz que é o oceano da verdade
Abre-se onde os teus versos vão abrindo…
A eternidade,
Na  pureza da sua claridade,
Sobre o teu nome, universal, caindo…

E o peregrino vem.
Reza devotamente,
Põe no altar o que tem,
E regressa mais livre e mais contente…
Assim faço, também!

 

Não Passarão

Não desesperes, Mãe!
O último triunfo é interdito
Aos heróis que o não são.
Lembra-te do teu grito:
Não passarão!

Não passarão!
Só mesmo se parasse o coração
Que te bate no peito.
Só mesmo se pudesse haver sentido
Entre o sangue vertido
E o sonho desfeito.

Só mesmo se a raiz bebesse em lodo
De traição e de crime.
Só mesmo se não fosse o mundo todo
Que na tua tragédia se redime.

Não passarão!
Arde a seara, mas dum simples grão
Nasce o trigal de novo.
Morrem filhos e filhas da nação,
Não morre um povo!

Não passarão!
Seja qual for a fúria da agressão,
As forças que te querem jugular
Não poderão passar
Sobre a dor infinita desse não
Que a terra inteira ouviu
E repetiu:
Não passarão!

1939 – Publica a «Criação do Mundo – Quarto Dia»;

1940 – Sai da cadeia do Aljube;

 
 

Com a esposa

1940 – Casa com a belga Andrée Cabrée que lhe fora apresentada por Vitorino Nemésio; Começa a viajar por Portugal; Publica «Os Bichos».

1941 – Abre em Coimbra, no Largo da Portagem, o seu consultório de Otorrinolaringologista, que ocupará quase até ao final da sua vida; Publica «Contos da Montanha» apreendido pela pide; Publica a conferência «Um Reino maravilhoso»; Publica o primeiro volume do «Diário»; Publica «Terra Firme» e «Mar», duas peças de Teatro.

1949
– Publica o quarto volume do Diário; Publica Paraíso (Teatro).

1943 – Publica «Lamentação» (poesia); Publica «O Senhor Ventura» (contos); Publica o segundo volume do «Diário».

1944 – Publica « Libertação» (poesia); Publica «Novos Contos da Montanha»; Publica «Porto» (conferência).


Consultório em Coimbra
1945 – Sua mulher é nomeada professora da Faculdade de Letras de Lisboa.

1946 – Publica «Odes»; Publica o terceiro volume do Diário.

1947 – Por motivos políticos Andrée Cabrée é demitida da Faculdade, por ordem de Salazar; Publica «Sinfonia» apreendido pela Polícia.

1948Morre sua Mãe;

 
 
 
 
 

Maria de Barros costumava dizer ao filho que “lhe falou na barriga,” sinal de predestinação popular. No dia da sua morte, a 1 de Junho de 1948, Torga escreve o poema “Mãe”:

“Mãe:
Que desgraça na vida aconteceu,
Que ficaste insensível e gelada?
Que todo o teu perfil endureceu
Numa linha severa e desenhada?
 
Como as estátuas, que são gente nossa
Cansada de palavras e ternura,
Assim tu me pareces no teu leito.
Presença cinzelada em pedra dura,
Que não tem coração dentro do peito.
 
Chamo aos gritos por ti – não me respondes.
Beijo-te as mãos e o rosto – sinto frio.
Ou és outra, ou me enganas, ou te escondes
Por detrás do terror deste vazio.
 
Mãe:
Abre os olhos ao menos, diz que sim!
Diz que me vês ainda, que me queres.
Que és a eterna mulher entre as mulheres.
Que nem a morte te afastou de mim!”