“O santuário do Mont’Alto “jóia de finíssimo quilate, estrela de muito brilho, vista cá de baixo, num horisonte de sombras e claridades, luz e auroras”, não se limita apenas à capela colocada no mais alto do cômoro, mas, em virtude “de ser o caminho comprido, & escabroso” por o monte ser muito alto, disseminavam-se desde a vila até ao cimo “seis Ermidas, dedicadas a varios Santos, que servem como descanso, & alivio aos que sobem a buscar a Senhora em aquella grande imminencia”; é que a rampa funcionava, outrora, como o único caminho capaz de conduzir os peregrinos ao reduto da Padroeira por quem todos os arganilenses nutrem um enorme respeito e uma veneração que ultrapassa em muito a crença religiosa.
O Mont’Alto tem de ser entendido não só como um verdadeiro santuário mariano, mas também como um sacro monte, que se inicia na capela do Senhor da Agonia e termina, em apoteose, no templo dedicado à Padroeira, construído bem lá no cimo do monte, certamente de acordo com os desejos da Senhora, pois Ela “gosta que se lhe edifique os seus altares sobre as penhas”, como escreveu Frei Agostinho de Santa Maria.”
Regina Anacleto in O Santuário de Nossa Senhora do Mont’Alto em Arganil: comunicação
A Capela do Senhor da Agonia situa-se numa das extremidades da vila e faz parte do conjunto de capelas que ladeiam o caminho de peregrinação que conduz ao Mont’Alto. De acordo com informação do reitor Manuel da Costa Lemos Tunes a sua construção data de 1758.
É considerado um exemplar de arquitetura barroca rococó. Ostenta planta longitudinal, vãos de lintel reto, cornija saliente, cunhais salientes encimados por pináculos, empena triangular encimada por uma cruz latina e portal principal com frontão triangular com volutas, interrompido por um nicho com concha.
O portal é ladeado por duas janelas também elas com frontão triangular interrompido, com volutas. O sino situa-se no telhado da sacristia e possui apenas o arco sineiro.
“Entrando no santuário, esta impressão de fria macicez desvanece-se, perante a riqueza da obra de talha, prodigalizada nos altares, teias, púlpito e galerias. (…)”
Virgílio Correia in A Comarca de Arganil nº 2560 de 04.07.1939
No interior da capela encontram-se as esculturas do Senhor da Agonia, Senhora da Soledade, S. Francisco e de S. Goldrofe.
Em 1712, Frei Agostinho de Santa Maria, no Santuário Mariano, refere a existência de seis capelas, dedicadas a vários Santos espalhadas, ao longo da Ladeira, as quais serviam como lugar de descanso e alívio para aqueles que por devoção e afeição vinham em peregrinação ao Santuário do Mont’Alto.
Nota:
A Capela da Varanda de Pilatos atualmente já não existe. Tal como refere Veiga Simões, esta ermida foi destruida pela altura da construção da estrada.
(…) de acordo com Veiga Simões, «aquando da construção da estrada de carro» foi «derruida» a da varanda de Pilatos, ou, como lhe chama Nogueira Gonçalves, a do Ecce Homo.
Regina Anacleto in O Santuário de Nossa Senhora do Mont’Alto em Arganil: comunicação
“Lá no cimo, no rebordo do planalto que precede o cômoro em que se levanta a capela da Senhora do Mont’Alto, mesmo no topo da ladeira, como que a receber os peregrinos, ergue-se, construída entre 1721 e 1747, uma outra capela, a do Senhor da Ladeira, de grandes dimensões e que antigamente tinha anexa uma hospedaria (…)
O templo tem o aspecto comum das capelas de romaria de todo o centro e norte do país: é uma construção maciça, onde abundam cantarias, com porta sobrepujada de varanda, segundo a moda do século XVIII (…)
O campanariozito, elegante e solitário, virado para a vila como que a chamar os peregrinos, fica defronte da fachada, com arco de sineira acolitado por pináculos.”
Regina Anaceto in Arganil
“No seu interior, para além das talhas douradas que ornam os altares (…) fecha a capela-mor uma grade de ferro de certo mérito.”
Regina Anacleto in Arganil
O padroeiro da Capela do Senhor da Ladeira é Cristo Crucificado.
É ainda nesta capela que se venera o Menino Jesus da Ladeira.
“Depois do largo planalto, antes de se iniciar a subida da última etapa que conduz à capela da Padroeira de Arganil, emergia do verde arvoredo uma outra ermidinha, dedicada ao Divino Espírito Santo, que se deve ter começado a construir em 1880 e foi posteriormente arrasada para dar lugar à que se fez, cerca de 1940, na parte superior do fontanário monumental (…).”
Regina Anacleto in O Santuário de Nossa Senhora do Mont’Alto em Arganil: comunicação
“No cimo da colina sacra, serpenteada por estrada ondulante e rasgada a pique pela ladeira outrora palmilhada pelos muitos romeiros que ali acorriam, sobretudo em dias festivos ergue-se a capela de Nossa Senhora do Mont’Alto.”
Regina Anacleto in Arganil
De acordo com o autor do Santuário Mariano sobre a porta principal da igreja existia uma pedra em que se declarava: «Esta Igreja mandou fazer Francisco Pires, filho de Domingos Pires, natural desta Villa, por seu irmaõ Joaõ de Coimbra, no ano de 1521».
Versão diferente é dada por António Carneiro de Mendonça, na Informação Paroquial de 1721.
Citando Regina Anacleto “perde-se na noite dos tempos a memória do primitivo templo, sem dúvida relacionado com o culto dos altos”.
“No interior da capela, o retábulo-mor e dois colaterais, estes incorporados em arcos que ficam perpendiculares ao primeiro, ornamentam o templo; a Virgem, de vestir ocupa o camarim do altar principal. Os colaterais, do mesmo tipo do principal e decorados com ornamentos concheados, são consagrados, respectivamente a Santa Luzia e a Santa Ana.
Na sacristia, sobre o arcaz, encontra-se armado um políptico com seis painéis modernos, pintados em tábua e alusivos à vida da Virgem, trabalho oficinal que se continua no tecto, de perspectiva, adornado com festões.”
Regina Anacleto in O Santuário de Nossa Senhora do Mont’Alto em Arganil: comunicação
“A vontade de dotar o Mont’Alto com características idênticas aos santuários congéneres e mais conhecidos, começou a manifestar-se cedo no seio da comunidade arganilense (…)
É justo não esquecer uma oferta feita pelo Barão de Louredo, no valor de nove contos de réis (…) o que levou a Junta da Paróquia a solicitar a elaboração de um plano, do qual foi incumbido o técnico Manuel de Souza Ricardo (…).”
A. C. Quaresma Ventura in Santuário de Nossa Senhora do Mont’Alto
Em 1931 Ernesto Korrodi, em parceria com Camilo Korrodi, elaborou o projeto de construção de arranjo paisagístico para o Santuário do Mont’Alto, o qual acabou por ser rejeitado pelo Conselho Nacional do Turismo em 1937.
Alguns anos antes um outro projeto, da autoria de Jacinto de Matos, foi rejeitado pelas autoridades governamentais.
“No capítulo das obras de beneficiação do Mont’Alto, as principais (…) foram as da terraplanagem do morro que deu origem à esplanada (1931); a electrificação (1935); a construção do fontanário monumental (…) e a abertura da via de acesso à capela de Nossa Senhora (…).”
A.C. Quaresma Ventura in Santuário de Nossa Senhora do Mont’Alto
Em Maio de 1960 foi inaugurado no Santuário do Mont’Alto o coreto, obra concretizada por iniciativa dos arganilenses radicados na Cidade da Beira (Moçambique).
Também a capela de Nossa Senhora do Mont’Alto foi sendo ao longo dos anos alvo de intervenção.
A 11 de Agosto de 1968 foram inauguradas obras de remodelação e ampliação, em que a velha casa do lado sul, que servia de hospedaria, foi substituída por um alpendre com colunas de granito e um quadro artístico da autoria do padre A. Nunes Pereira.
Foi também nesta ocasião que se inaugurou o chafariz.
“Há três coisas a que o arganilense, por via de regra, se mantém fiel ao longo da vida: O Mont’Alto, a Festa do Mont’Alto e a Feira do Mont’Alto.
São três valores de tal modo presentes na vida normal do cidadão comum que este não chega a ter consciência do que realmente significam para si.
De facto, é só quando o destino o força a viver fora do torrão natal que uma nova perspectiva do tempo passado, através dos mecanismos da saudade, lhe dá bem a noção da importância que essas referências têm no seu viver.”
Amândio Galvão in Arganil, a festa e a feira
FICHA TÉCNICA:
Organização e conceção: Biblioteca Municipal de Arganil – Câmara Municipal de Arganil
Colaboração: Fábrica da Igreja Paroquial de Arganil
Bibliografia:
Arganilia : Revista Cultural da Beira Serra. Arganil, 1992 –
A Comarca de Arganil. Arganil, 1901 –
Roteiro arquitectónico e artístico do concelho de Arganil. Arganil : Câmara Municipal : Biblioteca Municipal, 2016. ISBN 978-972-98693-7-2
ANACLETO, Regina – Concelho de Arganil : história e arte. Arganil : Santa Casa da Misericórdia, 1983.
ANACLETO, Regina – Arganil. 1ª ed. Lisboa : Presença, 1996. 1ISBN 972-23-2077-7
GALVÃO, Amândio – Arganil a festa e a feira. [S.l] : Moura Pinto, D. L. 1995
VENTURA, A. C. Quaresma – Arganil : Santuário de Nª. Srª. do Mont’Alto : percurso religioso, histórico e artístico. Arganil : Fábrica da Igreja Paroquial, 2021.