João Rodrigues Alves Coelho, filho de João Rodrigues Alves (natural da povoação de cabeçadas) e D. Libânia Pereira Coelho, nasceu em Arganil no dia 27 de Janeiro de 1882.
Alves Coelho casou com Anália da Conceição Henriques Alves Coelho e teve dois filhos: João Sérgio Alves e Alberto dos Anjos Alves Coelho.
Alves Coelho logo nos seus tempos de meninice começou por mostrar vislumbres de uma bela e sã inteligência, distinguindo-se entre os seus condiscípulos, o que o tornou querido dos mestres.
Frequentou a aula do reitor Luís Caetano Lobo, que foi um excelente professor de música e logo se tornou um dos mais dilectos discípulos do mestre.
D. Anália da Conceição, esposa de Alves Coelho
Em 1893 Alves Coelho partiu para Coimbra matriculando-se no seminário, onde ainda realizou os exames preparatórios.
Porém, o pai faleceu em 1898 o que o levou a abandonar os estudos. Alves Coelho parte então para Lisboa onde frequentou a Escola Normal Primária de Lisboa, concluídos os exames finais, foi considerado habilitado para exercer o magistério primário e nomeado para a escola oficial de Mafra.
Passado algum tempo demitiu-se do cargo de professor e foi nomeado para um cargo do Ministério de Instrução. Sendo mais tarde, reintegrado no seu cargo de professor e nomeado regente da Escola Municipal nº 78 em Lisboa.
Largo Dr. José da Costa e Largo Ribeiro de Campos
“Foi um professor sempre considerado, mas (…), a celebridade que veio a conhecer foi devida à música. Com efeito, não obstante as suas funções de mestre-escola lhe absorverem a maior parte do tempo, não se esquecia da arte que trazia na alma desde criança. Em rigor, era essa a sua grande paixão e não tardou que começasse a compor.”
Amândio Galvão in Figuras notáveis de Arganil. Arganil: Câmara Municipal, 1991
Alves Coelho estreou-se no teatro ligeiro em 1902, com a música de uma opereta chamada Visões de Rabi, de autoria de Raimundo Alves.
“Esta peça foi apresentada ao público em Lisboa numa academia de recreio da Travessa do Despacho, a Santa Marta, e, como tivesse agradado bastante, foi mais tarde exibida várias vezes no antigo Teatro da Rua de S. Bento. Isto passava-se em 1902. Era a sua estreia de compositor no teatro musicado.”
Amândio Galvão in Figuras notáveis de Arganil. Arganil: Câmara Municipal, 1991
Entre 1902 e 1905 fez o seu primeiro trabalho para teatro de revista: foi para Saúde e Fraternidade, espectáculo estreado num teatro do Porto.
Mas havia de ser só em 1911 que iniciaria uma colaboração assídua neste género de teatro, visto até 1931, ano da sua morte, só em 1923 e 1924 se não terem estreado revistas com música da sua autoria.
Entre 1902 e 1905 fez o seu primeiro trabalho para teatro de revista: foi para Saúde e Fraternidade, espectáculo estreado num teatro do Porto.
Mas havia de ser só em 1911 que iniciaria uma colaboração assídua neste género de teatro, visto até 1931, ano da sua morte, só em 1923 e 1924 se não terem estreado revistas com música da sua autoria.
Em 1911 Alves Coelho foi o único compositor da revista Está Certo, escrita por Júlio Dumont, estreada no Teatro Chalet. No mesmo ano compôs em colaboração com Tomás Del Negro os temas musicais da revista Peço a Palavra, escrita por João Bastos e Álvaro Cabral.
O Garoto de Rua, um dos quadros musicais da revista Peço a Palavra, foi musicado por Alves Coelho.
De seguida colaborou nas revistas Có-có-ró-có, em 3 actos e 12 quadros, na revista A espiga, em 2 actos e 7 quadros e n’Os Grotescos, em 3 actos e 12 quadros.
O Adeus e a Saudade, um dos quadros da revista A ESPIGA, saltou do palco para a voz popular.
Em 1913, Alves Coelho, integra a equipa criativa de cinco revistas: O 31; Alerta; Auto Aqui; Isto é deles e Pathé-jogral.
A revista O 31, em 2 actos e 8 quadros, teve a nível de texto parceria de Luís D’Aquino, Pereira Coelho e Alberto Barbosa, e na música Alves Coelho e Tomás Del Negro e esteve em cena durante 10 anos, passando por palcos de Lisboa, do Porto e de várias cidades brasileiras. Boa parte do espectáculo era dedicada à crítica situação sócio-política que o País atravessava, situação a que de resto começava por aludir o próprio título.
“Aquando da estreia, a primeira vedeta do espectáculo era a célebre actriz e cantadeira Maria Victória, a fadista da voz «cavada e triste», cuja morte prematura (…) deixou legenda no firmamento do fado. Maria Victória cantava aí duas canções que foram dois sucessos extraordinários: o «fado da estúrdia» e o «fado do 31».”
Amândio Galvão in Figuras Notáveis de Arganil
Este último era da autoria de Alves Coelho e teve grande êxito junto do público. Nesta canção havia uma alusão directa ao surto de greves que se desencadearam em vários pontos do país e às suas consequências.
Fado do 31
Coro
É um fado nacional
P’ro pagode e p’ro banzé
Como outro não há nenhum!
Tudo bate em Portugal
– Olarila, pistaré! –
O fado do 31!
I
À porta da Brasileira,
Dois bicos encontram dois,
Ficam os quatro e depois,
Lá começa a chinfrineira!
Azeda-se a cavaqueira,
Vai aumentando o zunzun,
Vem bomba, rebenta… pum!
E agora o vereis:
24 e 26
29 e 31!
II
Um homem que quer sarilhos
Por um motivo qualquer
Discute com a mulher
E dá castanha nos filhos,
A tia, nos mesmos trilhos,
Também não fica em jejum
A sopa leva um fartum
Desata tudo ao biscoito
24 e 28
29 e 31!
III
Mal amanhece, os tachados,
Bebem licor da botija
Mais um copinho da rija
De 4 em 2 separados.
Depois, assim engraxados,
P’ra não ficarem em jejum
Bebem dois copos de rum
Vai Carcavelos e Porto
E no fim está tudo torto
E rebenta o 31!
“O ano de 1914, é também, um período de enorme criatividade para o maestro Alves Coelho, a ser solicitado para integrar equipas criativas em vários teatros de Lisboa e do Porto. Na capital, junto com a grande parceria de autores: Ernesto Rodrigues, Félix Bermudes e João Bastos, compõe as músicas para a revista Paz e União, tendo como colaborador Filipe Duarte.”
Luciano Reis in Maestro Alves Coelho. Lisboa: Setecaminhos, 2009
“Em 1915 (com a Guerra), começaram a aparecer na sociedade lisboeta sinais de uma moda verdadeiramente revolucionária para o tempo. De facto, principiavam então a esbater-se as grandes diferenças que até aí haviam caracterizado as maneiras de vestir do homem e da mulher.
Uma revista de Eduardo Schwalbach, entretanto estreada no Teatro da Trindade, O dia do juízo, com música de Tomás del Negro e de Alves Coelho, explorou esse acontecimento a fundo, sem deixar de sugerir que, pelo caminho que as coisas levavam, não viria longe o tempo em que a confusão dos sexos seria coisa corrente em Portugal. Era, enfim, o problema da repercussão social da homossexualidade masculina e feminina a surgir em pleno no palco do teatro ligeiro.
Schwalbach concebeu para o efeito um quadro a que chamou «Adelaides e Cartolinhas» que, embora frívolo, segundo os historiadores teatrais da época, foi coroado de sucesso absolutamente inesperado.”
Amândio Galvão in Figuras Notáveis de Arganil
ADELAIDES e CARTOLINHAS
(coro)
Entre piadas, entre picuinhas,
Quer para elas, quer p’rós seus alcaides,
Vão as gentis e belas Cartolinhas
Co’os lindos e dengosos Adelaides.
I
Adelaide
Ó Cartolinha, meu amor
Ser quero a jóia do teu engaste…
Cartolinha
Antes eu quero ser a flor,
E tu, Adelaide, a minha haste.
Adelaide
Ai, como tu a homem cheiras!
E como pegas na «badine»!
São de mulher essas olheiras
Esse carmim e a «valoutine»!
(refrão)
Adelaide
Tu de homem e eu de mulher
Era galinha!
Bastava a gente querer ó Cartolinha
Cartolinha
Que graça. Adelaide, teria
Para brincar!
Inda havemos um dia
De experimentar!
II
Adelaide
Da cinturinha para baixo
Duma campainha tem o aspecto.
Cartolinha
Eu não sei o que em ti acho.
Mas não te acho um homem completo.
Adelaide
Co’a tua saia posta a jeito
Todos me comem por mulher!
Cartolinha
Co’as tuas calças a preceito
De homem eu faço se quiser.
A revista O Dia do Juízo grande sucesso junto do grande público e dos críticos da especialidade. A centésima representação, que teve lugar a 12 de Fevereiro de 1916, foi de homenagem a Alves Coelho.
Em 1916 estreou-se no TEATRO ÉDEN a revista O Novo Mundo de autoria de Ernesto Rodrigues, Félix Bermudes e João Bastos, com música de Venceslau Pinto e Alves Coelho, que teve um êxito comparável ao de O Dia do Juízo.
“Acontece que um dos quadros deste espectáculo era dedicado ao carroceiro «Ganga», figura em que os autores pretenderam simbolizar todo o primarismo, toda a boçalidade e a estupidez de inúmeros portugueses de então, na sua tendência para recorrerem ao argumento da força quando lhes faltava o da razão.
O papel do dito carroceiro foi desempenhado por Estêvão de Amarante, que, ainda quase nos primeiros tempos da sua brilhante carreira, encontrou aí uma verdadeira consagração.
Amândio Galvão in Figuras Notáveis de Arganil
Amarante cantava nesse quadro um fado – o «Fado do Ganga» – que mercê do sucesso que teve, ficou célebre e tornou a revista famosa.”
Ainda em 1916 Alves Coelho colaborou com Carlos Calderón, Manuel Figueiredo e Tomas Del Negro na revista O Beijo levada à cena no Teatro Nacional do Porto, da autoria de Arnaldo Leite e Carvalho Barbosa. Com Tomás Del Negro, colabora em Castelos no ar, revista em 2 actos e 9 quadros de autoria de Eduardo Schwalbach e Acácio de Paiva e com Henrique Cabral, colabora em Asnoplano, escrita por Júlio Rodrigues.
1917 e 1918 são anos em que a participação de Alves Coelho na composição de música para revistas é menos significante. Compôs a música para a revista De Borla, em colaboração com Tomás Del Negro assinou as músicas para A Ordem do Dia e para O Ovo de Colombo. Em parceria com Tomás Del Negro e Luís Filgueiras participou na revista Ao Deus Dará.
O ano de 1919 é muito mais intenso do que os anteriores. Alves Coelho colabora em quatro produções com o seu trabalho: Aqui D’El Rei!; Auto da Barriga; Paz Armada e O Pé de Meia.
Alves Coelho, Raul Portela (compositores), João Bastos, Lino Ferreira (autores), Venceslau Pinto (compositor), Félix Bermudes (autor)
Para Aqui d’El Rei Alves Coelho foi autor da música de Almíscar e Patchouli, Fado da Alfazema e Fado do Carambolim.
Em 1920, em colaboração com Bernardo Ferreira e Carlos Calderón Alves coelho compõe as músicas para a revista Sem Camisa, em 2 actos e 12 quadros e é autor das músicas da revista Tam-Tam.
O ano seguinte foi mais um ano intenso, tendo Alves Coelho participado em 5 produções de teatro de revista: O belo sexo; Gato por Lebre, Trolaró; Pé de Dança e Tic-Tac.
A revista Gato por lebre foi levada á cena no Teatro Apolo e para ela Alves Coelho compôs a música para Noite de Santo António, Fado da Lebre e Fado João Ninguém.
Bonet de Pala e Bonet ordinário foi um dos números da revista Trolaró, musicada por Alves Coelho.
“Em 1922, Alves Coelho continuava a ser uma das grandes personalidades criativas ligadas ao teatro de revista. Um teatro que era um teatro-espectáculo, teatro-música, teatro-humor, com denúncia do (im)possível. A revista era tudo isto no decorrer deste período, conquistando audiências e mantendo a imagem da mais popular forma de teatro em Portugal.”
Luciano Reis in Maestro Alves Coelho
O Teatro Maria Vitória abriu as suas portas ao público na noite de 1 de Julho de 1922 e o seu primeiro espectáculo foi a revista Lua Nova, em 2 actos e 11 quadros, da autoria de Ernestro Rodrigues, Félix Bermudes, João Bastos e Henrique Roldão.
Toda música deste espectáculo, originais e arranjos, foi composta por Alves Coelho.
Cantiga Nova
A tristeza quando canta
Seus males desanuvia;
Passa a chamar-se alegria
A tristeza quando canta.
Como o sol que se levanta
Dispersa a noite sombria
Assim por doce magia
Quem canta seu mal espanta
Ai canta, canta
Coração risonho
Ai canta, canta
Coração de neve
Ai canta, canta
Uma canção de sonho
Que foge em breve…
Mais veloz que o pensamento
Uma cantiga esvoaça;
Nasce, vive, morre e passa
Mais veloz que o pensamento
O amor é doce tormento
Com setas de fina graça
Se uma d’ellas nos trespassa
Cantigas leva-as o vento…
Ai canta, canta
Coração risonho
Etc., etc.
Compadre
Decance avô Pirolito
Que é provável que eu consiga
Deitar a mão á cantiga
E mais a esse maldito
Cantiga Nova foi uma das peças musicadas por Alves Coelho para a revista Lua Nova.
Neste ano Alves Coelho colabora em mais duas revistas levadas à cena na cidade do Porto: em colaboração com Bernardo Ferreira musicou Cigarro Brejeiro, em 2 actos e 14 quadros; e em colaboração com Raul Portela e António Lopes compôs para a revista Pica-Pau, em 2 actos e 9 quadros.
Ambas as revistas da autoria de Ascensão Barbosa e Abreu e Sousa.
A Gitana, uma das peças musicadas por Alves Coelho para a Revista Cigarro Brejeiro e interpretada pela actriz Julieta Soares.
“Independentemente do êxito do trabalho alcançado em 1922, principalmente no Teatro Maria Vitória, em 1923 e 1924 não se conhece nenhum trabalho de Alves Coelho, quer a nível de operetas, quer no campo do teatro de revista, a não ser o que musicou para as produções levadas a cabo pelo grupo de teatro de empregados do Banco Nacional Ultramarino.”
Luciano Reis in Maestro Alves Coelho
Para este grupo musicou a revista Era uma vez, Tristezas… não pagam dívidas e Furta-Côres, produções em desempenhou também o cargo de director musical.
Em Fevereiro de 1924, promovido pelo Diário de Notícias, o Dr. Augusto de Castro, jornalista e um dos fundadores da Sociedade de Escritores e Compositores, organizou um grande espectáculo a favor dos pobres no Coliseu dos Recreios. Alves Coelho foi o director musical deste espectáculo.
Em 1925, em colaboração com Raul Portela, Alves Coelho foi autor da música para a revista Frei Tomás ou o Mistério da Rua Saraiva de Carvalho, estreada nesse mesmo ano no Éden-Teatro.
Alves Coelho alcança em 1926 um grande triunfo junto do público com a revista Cabaz de Morangos da autoria de Lino Ferreira, Silva Tavares, Luna de Oliveira, Acúrcio Pereira e Lopo Lauer.
“Da composição musical foi encarregada uma parceria formada por três verdadeiros «monstros sagrados» da música ligeira: Wenceslau Pinto, Raul Portela e Alves Coelho (…) de todos os seus quadros o que obteve maior adesão foi sem dúvida o «Dia da Espiga», que havia sido musicado pelo maestro arganilense..”
Amândio Galvão in Figuras notáveis de Arganil
Dia da Espiga
(coro)
Oh!, Ih!, oh!, ai!
Esta vida é uma cantiga
E este dia de alegria
Vale um ano de aflição…
Oh!, Ih!, oh!, ai!
Porque este dia da espiga
É o arauto do dia
Em que o trigo há-de ser pão.
I
Jorra o vinho dos pichéis
Para o lábios das moçoilas,
Mais vermelhos que papoilas
Co’as larachas do Maneis.
Há merendas pelos prados,
Gargalhadas pelo ar,
E à beirinha dos valados,
Ouve a gente murmurar:
Refrão
Maria, são teus olhos azeitonas!
Cachopa, são teus lábios qual cereja!
E os teus seios, cachos de uvas que abandonas
À vindima desta boca que os deseja!
II
Tomam todos os caminhos
Um sabor de romaria,
E até mesmo os pobrezinhos
Fingem ter certa alegria…
E, na volta, já sentindo
Que foi tudo um sonho vão.
«Inda» há ecos, repetindo
Pelo espaço esta canção:
Ainda em 1926, Alves Coelho colabora na revista Fungagá, Tarifa I e Sempre fixe.
“No ano seguinte, 1927, aparece em cena, também no Éden-Teatro, a revista Rosas de Portugal em perfeito alinhamento ideológico com cabaz de morangos. Aí José Clímaco era mesmo um dos seus autores, sob o pseudónimo de José Romano; os restantes foram: Silva Tavares, António Carneiro e Feliciano Santos. Da música encarregaram-se de novo Wenceslau Pinto, Raul Portela e Alves Coelho. A este último compositor coube musicar uma canção de Silva Tavares, intitulada «Giestas» (…) provavelmente o trabalho mais inspirado do seu autor (…)”
Amândio Galvão in Figuras notáveis de Arganil
Para além do êxito alcançado com Giestas, outros obtiveram igual sorte, nomeadamente Capicua, Rapazes Cuidado e Rancho da Azeitona
Giestas
I
Sobre a serra, sem lamentos,
A giesta vive só,
Sacudida pelos ventos
E coberta pelo pó!…
É bravia mas encerra
No seu todo de humildade
A modéstia desta terra
Do amor e da saudade.
Dente a paz que há na terra
Quando a noite flutua
Brilha a giesta na serra
À luz branca da lua.
II
Mesmo já quando não presta
E o Inverno é de tremer
Aproveita-se a giesta
P’ra os velhinhos aquecer!
E as faúlhas crepitando
Na braseira incendiada
Inda vão como evocando
Da giesta a flor doirada!
Rancho da Azeitona
1º
Coro
Que toda a gente se enfeite;
P’ra longe as penas e os ais,
Pois em breve darão azeite
Os frutos dos olivais!…
E, p’ra ter vida farta,
Basta, apenas alegria;
Pão na arca; água na quarta-feira e azeitona dentro duma almotolia!…
Refrão
De roda, de roda,
Mas tem-te não caias,
Porque anda na moda
A roda das saias!
E assim sacudidas,
As saias rodadas,
São sinos d’ermidas
A dar badaladas!…
2º
António
Inda agora aqui cheguei,
Mais cedo não pude vir…
Mas saibam que não cansei,
E a serra é toda a subir!…
Sou velho mas tenho pernas
Como há bem poucas p’ra aí,
E p’ra as raparigas ternas
Saibam todas que ainda estou por aqui!…
Ainda em 1927 Alves Coelho entra na produção da revista Aldeia dos Macacos e colabora na produção da opereta de costumes populares Bairro Alto e na opereta A Madragoa.
Em 1928 Alves Coelho colabora em duas revistas no Éden-Teatro: O Manjerico e Terras de Cantigas. Para além destas duas produções, colaborou ainda em Carapinhada, A Pilha d’Alcantara, A Gandaia e Gomes Freire-Avenida
Em 1929 participa na revista Chá de Parreira, estreada no Teatro Variedades e, levada também à cena, no Teatro da Trindade. Escrita por José Galhardo, Alberto Barbosa e Santos Carvalho, foi musicada pelo arganilense Alves Coelho em colaboração com Frederico de Freitas.
Neste mesmo ano Alves Coelho colaborou com Raul Ferrão e L. Costa na revista Sol de Portugal, da autoria de Álvaro Leal e Lourenço Rodrigues. Também colaborou com Venceslau Pinto e Raul Portela na revista Pó de Maio, escrita por Félix Bermudes, João Bastos e Pereira Coelho. Desta produção dois temas tiveram o privilégio da edição musical: a canção dueto Banquinha e Farrusca e a canção Dona Chica e Senhor Pires.
Em 1930, um ano antes da sua morte, Alves Coelho que se encontrava no auge do seu potencial criativo, então com 48 anos, participa na produção de 5 revistas e uma opereta, todas elas em parceria com os colegas Raul Portela e Venceslau Pinto: Biscaia Lambida; A Bola; A Cigarra e a Formiga; Marcha Atrás; Salada de Alface e a opereta História do Fado.
No ano da sua morte Alves Coelho ainda colabora em mais 5 revistas: A Greve do Amor; A Lei do Inquilino; Revista Sonora; Toma Teresa e Vamos ao Vira.
Também nesse ano em parceria com Raul Portela musicou a adaptação para Portugal da peça El Nino d’Oro do espanhol José Maria Granada.
O compositor e maestro Alves Coelho faleceu a 23 de Outubro de 1931 vítima de congestão cerebral.
“Morreu cedo, apenas com 49 anos de idade. O seu falecimento causou a maior consternação na capital, principalmente no meio teatral, em que era estimadíssimo. O funeral realizou-se para o cemitério dos prazeres. O seu talento e paixão pela música ligeira ainda tinham muito para dar, independentemente de ter atingido inolvidáveis e merecidos triunfos e de conseguir ser alguém no meio musical.
Integrou as melhores parceiras de compositores na cidade de Lisboa, criando músicas que trouxeram aos teatros da capital, multidões de pessoas, sequiosas de assistir a bons espectáculos, onde a sátira social e política, era um ponto forte. (…) As suas obras triunfaram em Lisboa, na cidade do Porto, nas digressões por todo o país, por Angola, Moçambique, Brasil e Espanha. (…) Um dos nossos melhores talentos da composição, criou imensos êxitos que alcançaram a edição discográfica e folha de música. (…)
Vale a pena sublinharmos a dificuldade com que trabalhou Alves Coelho, pois tinha que conciliar a sua vida musical com a de professor. Mas, a sua excepcional capacidade de improvisação, permitiu-lhe atingir os seus objectivos. Dizia-se, na época, que a música para o Dia da Espiga, foi escrita em meia hora.(…)
(…) Organizou e dirigiu um agrupamento musical, denominado “Troupe Portugal”, que actuou com grande êxito, com músicas suas, em Portugal, Espanha e Marrocos.
O governo português conferiu-lhe o grau de cavaleiro de São Tiago da Torre e Espada.(…)
A vila de Arganil nunca o esqueceu. O seu nome dá nome a uma rua e, no dia 9 de Maio de 1954, num gesto de grande solidariedade à memória deste arganilense, inaugurou-se um teatro com o seu nome (…)”
Luciano Reis in Maestro Alves Coelho