Amândio Travassos Galvão nasceu em 1922, em Arganil, filho de António Galvão e Maria Susana Travassos Galvão, famílias com raízes profundas na região. Passou em Arganil a sua infância e parte da adolescência.

Amândio Travassos Galvão
Amândio Travassos Galvão nasceu em 1922, em Arganil, filho de António Galvão e Maria Susana Travassos Galvão, famílias com raízes profundas na região. Passou em Arganil a sua infância e parte da adolescência.
A 24 de julho de 1933, recebeu o Diploma de Instrução Primária, ingressando nesse mesmo ano no curso liceal no Colégio de S. Pedro, em Coimbra. Em 1937, entrou na Escola de Regentes Agrícolas de Coimbra, concluindo o curso de regente agrícola em 1941. Posteriormente, ingressou no Instituto Superior de Agronomia, em Lisboa, onde contactou com grandes vultos do ensino e da cultura, entre os quais os Professores Henrique de Barros, Mário de Azevedo Gomes, Carlos Manuel Baeta Neves e Rui Mayer.
Enquanto estudante de Agronomia, participou no Movimento de Unidade Democrática (MUD), o que o levou a sofrer perseguições pela PIDE. Concluído o estágio complementar do curso na Estação Agrária de Viseu, obteve, a 26 de novembro de 1948, a licenciatura em Engenharia Agronómica.
Após o curso, exerceu funções na Federação Nacional dos Produtores de Trigo e na Inspeção-Geral dos Produtos Agrícolas e Industriais. Em 1958, ingressou na Fundação Calouste Gulbenkian, onde, ao longo de 28 anos, se distinguiu como investigador do Centro de Estudos de Economia Agrária, dedicando-se com empenho e brio à investigação e à docência científica.
Fora da esfera profissional, dedicou-se, desde 1985, ao estudo de diferentes aspetos da cultura arganilense, área na qual produziu uma vasta obra. Faleceu em Lisboa, no ano de 2005.
O Eng.º Amândio Galvão deixou uma obra relevante tanto no domínio técnico — com a publicação de vários trabalhos de investigação na área da sua especialidade — como no campo da história social de Arganil, sobre a qual escreveu inúmeros textos. A maior parte desses textos foi publicada inicialmente no jornal A Comarca de Arganil e mais tarde reunida em dois livros: Crónicas da Minha Terra (Memórias de um Arganilista), publicado em 1996 pela Editorial Moura Pinto, e Novas Crónicas, publicado em 2005, também pela mesma editora.
Como refere o autor na “Nota de Abertura” de Novas Crónicas, o que distingue os dois livros é a temática das crónicas. Enquanto no primeiro predomina a evocação de aspetos da vida em Arganil que o autor conheceu enquanto ali viveu, o segundo livro centra-se nas pessoas — ou, como o próprio escreve, “o livro trata sobretudo do arganilense como produtor de cultura”.
A 10 de junho de 1998, dia do seu aniversário natalício, foi homenageado pela Câmara Municipal de Arganil, que lhe concedeu a Medalha de Mérito (prata), em reconhecimento da sua carreira e contributo para o estudo e valorização da identidade arganilense.

Obras Científicas
Para além dos dois volumes de crónicas, o autor publicou diversos trabalhos na área científica, entre os quais se destacam:
- Enquadramento Teórico do Sistema Contábil Global Aplicado à Agricultura (Ensaio). Instituto Gulbenkian de Ciência, 1980
- Sobre a Experiência Portuguesa do Conselho de Gestão ao Agricultor. Instituto Gulbenkian de Ciência, 1978
- Gestão Empresarial como Objeto de Vulgarização Agrícola nas Sociedades Subdesenvolvidas. Separata de “Primeiros Encontros Agronómicos”. Luanda: Nova Lisboa, 1971
- Dois Conceitos de Gestão Agrícola. FCG – Centro de Estudos de Economia Agrária, 1970
- Le Rehaussement des Qualifications Exécutive et Administrative dans la Production et la Commercialisation des Produits Agricoles. XIV Conférence Internationale des Économistes Agricoles, Moscovo, 1970
- A Gestão Empresarial e a Posição do Agrónomo, como Técnico de Gestão, na Agricultura Portuguesa. Separata do trabalho apresentado ao 1.º Congresso dos Engenheiros Agrónomos e dos Engenheiros Silvicultores. Luanda: Nova Lisboa, 1969
- O Sistema de Produção da Empresa Agrícola como Objeto de Planeamento. FCG – Centro de Estudos de Economia Agrária, 1968
- Contabilidade Agrícola Global. FCG – Centro de Estudos de Economia Agrária, 1967
Obras sobre Arganil
Sobre Arganil, o Eng.º Amândio Galvão escreveu ainda:
- Em Torno das Origens de Arganil. Arganil, 1987
- Figuras Notáveis de Arganil. Município de Arganil, 1991
- Arganil: A Festa e a Feira. Arganil: Editorial Moura Pinto, 1995
- Para a História do Argus. Arganil: Editorial Moura Pinto, 1996
- Veiga Simões: Algumas Notas Bibliográficas. Arganil, 1988
- Breve Evocação de Veiga Simões no Ano do Seu Centenário. Município de Arganil, 1988
Nota Acerca do Estado de Desenvolvimento do Ensino Primário Público na Região de Arganil no Ano de 1864. Arganil: Editorial Moura Pinto, 1998


Última Obra
O livro Memórias que um Amigo Me Deixou, editado postumamente pela Editorial Moura Pinto em 2006, foi o último trabalho de Amândio Galvão — infelizmente não publicado em vida do autor.
Um grupo de amigos decidiu dar-lhe forma definitiva, acrescentando ao texto inicial — uma homenagem ao seu grande amigo, Professor Henrique de Barros — um conjunto de textos sobre o próprio autor, que esses amigos quiseram dedicar-lhe.
«(…) o livro que acaba de lhes ser apresentado é o último de uma série de três obras – Figuras Notáveis de Arganil, Crónicas da Minha Terra, Novas Crónicas – que o Autor dedicou à exaltação de valores de Arganil e da sua Região, ou seja, da região constituída pelo território e três concelhos contíguos – Arganil, Góis e Pampilhosa da Serra -, concelhos estes que, durante muitos anos (até 1978), estiveram sob jurisdição do Tribunal de Arganil, e representavam o que restava da muito antiga e muito vasta Comarca Judicial de Arganil.»
in, MEMÓRIAS QUE UM AMIGO NOS DEIXOU, pág. 138/139


A cultura é o melhor antídoto contra a manipulação da consciência.
«As crónicas que, de há uns anos a esta parte, venho dedicando neste jornal a personalidades, acontecimentos, factos com alguma relevância no contexto da comunidade arganilense têm uma finalidade comum: possibilitar aos meus conterrâneos mais novos um melhor conhecimento de si próprios, como arganilenses, mercê duma (eventualmente) mais completa informação sobre as raízes da sua cultura.»
in, CRÓNICAS DA MINHA TERRA, pág. 114

«O projecto Argus contemplou diversos domínios: defesa contra incêndios, instrução, educação, desporto e cultura artística. (…) Recordado à distância de sessenta anos ganha contornos de gesta, onde uma ala de arganilenses – novos, audazes, generosos, sonhadores – se bateu galhardamente pelo bem da sua terra.
Em suma: a criação da Argus significou o abrir de um processo de alterações de hábitos no meio social desta vila, cuja finalidade suprema foi a valorização do homem arganilense.»
in, MEMÓRIAS QUE UM AMIGO NOS DEIXOU, pág. 138/139
«A leitura é uma forma de comunicação que nenhum outro meio pode substituir perfeitamente, sendo certo que o seu hábito regular constitui para o homem um bem inestimável. E é por isso que se, por um lado, me desgosta ver tão poucas pessoas adultas a frequentarem a Biblioteca de Arganil, por outro, agrada-me sobremaneira verificar ser apreciável o número de crianças habitualmente ali presentes – por serem potenciais leitores de amanhã (…)
Acho que é a consciência de tudo isso que me leva a olhar uma instituição destas como uma espécie de lugar sagrado, que devia merecer o respeito de toda a gente. Pelo que me toca, remato dizendo que só sei entrar numa biblioteca em silêncio e de cabeça descoberta…»
in, CRÓNICAS DA MINHA TERRA, pág. 159 E 160


No seu quintal, onde: plantou árvores que baptizou com nomes familiares; semeou esperança e afectos, passeando sobre as lajes; colheu os frutos de novas amizades, com o gosto único; vindimou desenganos; apanhou rosas vermelhas – cor de sangue; reclinado no cadeirão na paz do entardecer, via extinguir-se o Sol no céu de Arganil, que tanto, tanto amava…
A 26 de Julho, ausentou-se da Vida, como sempre viveu, com muita coragem e a maior dignidade. Perdemos um HOMEM BOM e de BEM. O Infinito ganhou uma ALMA GRANDE.
Que a memória o guarde!
Maria Celeste Galvão
in, MEMÓRIAS QUE UM AMIGO NOS DEIXOU, pág. 141






























































