O Padre António Nogueira Gonçalves é uma das personalidades mais relevantes do Concelho de Arganil.
Ingressou no curso superior de Teologia no Seminário Maior de Coimbra em 1914 e foi ordenado Presbítero em 26 de Julho de 1925.
O seu gosto pela investigação histórico/artística levou-o à Universidade de Coimbra onde criou e organizou o Instituto de História de Arte.
A sua vida decorreu entre a missão de padre e o gosto pelo ensino e pela investigação.
Ao longo da sua vida escreveu centenas de artigos sobre arte e também alguns contos, todos publicados em jornais. Mais tarde alguns desses trabalhos foram reunidos em livro.
Ainda em vida o Padre Nogueira Gonçalves confiou à guarda da Biblioteca Municipal de Arganil esse extraordinário espólio.
António Nogueira Gonçalves nasceu em Sorgaçosa, na freguesia de Pomares do concelho de Arganil no dia 22 de Dezembro de 1901. Era filho de José Fernandes Nogueira, natural de Loriga (Seia) e de Raquel da Conceição Gonçalves Nogueira, natural de Sorgaçosa. Fez a instrução primária com o pai, professor primário no Piódão, onde ajudava o pároco Manuel Fernandes Nogueira que aí dirigia, a par de pároco da freguesia, um colégio.
“O encanto da velha casa onde se nasceu, da casa que foi dos avós, um antigo solar ou simplesmente um humilde lar!…
Tenho uma velha casa numa prega duma serra, lá longe. É humilde. Não a trocava por todo o ouro do mundo.
A casa onde se nasceu, a casa com que se sonha quando se está longe, tem, para cada um de nós, uma história antiga e humilde, que só cada um de nós entende. Fala-nos nela a doce voz daqueles que já desapareceram, adoráveis fantasmas de quem se amou vem de novo enfeitiçar-nos, e as lembranças de quando se era menino de novo revivem.”
O Meu canto em louvor da casa/ António
in Correio de Coimbra de 28.11.1934
“Em Arganil fiz exame de segundo grau tendo-me sido dada a classificação de distinto. Em Arganil, ao findar a vida e os meus trabalhos de investigação de História da Arte, venho receber esta outra distinção, coroando o fim.
Demorei aqui três dias, nesse remoto ano de 1911 e, em vez de assistir aos exames, para me habituar ao ambiente escolar, dei-me ao reconhecimento da vila e, com um companheiro percorri os arredores. E Arganil ficou-me gravada no espírito, de tal modo que direi: – foi aqui que comecei as indagações histórico-artísticas. (…)
Passei a juventude em região muito próxima, principalmente nas férias do Verão. Quase diariamente subi uma linha de cimos, uma longa cumeada que era percorrida por estrada carreira, lendo ou contemplando a paisagem.”
Extracto do discurso de António Nogueira Gonçalves, proferido na entrega da medalha de Ouro do Concelho em 1992
Em 1914 António Nogueira Gonçalves ingressou no curso superior de Teologia no Seminário Maior de Coimbra. Recebeu Prima Tonsura e Ordens Menores em Dezembro de 1921, Subdiácono em 13 de Julho de 1924, Diácono em 7 de Março de 1925. Foi ordenado Presbítero em 26 de Julho de 1925 por D. Manuel Luís Coelho da Silva.
“De alguns alunos desse tempo sei eu que o fizeram por serem difíceis os tempos e verem a Igreja vilipendiada. É possível que Nogueira Gonçalves pertença a esse número. A fidelidade com que o longo da sua vida (…) tem servido a Religião e a Igreja está a demonstrá-lo. Talvez que na origem da sua vocação esteja a imagem de um tio Padre (…) Chamava-se Manuel Fernandes Nogueira…”
Manuel de Trindade-Almeida
Durante alguns meses exerceu o cargo de Adjunto da Secretaria do Bispado tendo mais tarde sido nomeado pároco de Friúmes e São José das Lavegadas, no concelho de Penacova.
Em 1928 regressa a Coimbra e ingressa no quadro dos capelães da Sé Nova sendo nomeado Cerimoniário da Mitra. Foi também por esta altura que António Nogueira Gonçalves obteve o diploma de professor primário, dedicando-se durante anos, a ensinar na escola nocturna da Sé Nova. A sua acção não se limitava apenas à escola. Desde cedo revelou a sua propensão e curiosidade no estudo da Arqueologia e Arte, e dava longos passeios com os alunos na cidade ou nos concelhos mais próximos, visitando terras e monumentos.
“António Nogueira Gonçalves encontrou em Coimbra um ambiente propício aos estudos histórico-artísticos e, ao chegar à cidade, ainda aqui pontificavam figuras como o Doutor António Garcia Ribeiro de Vasconcelos, o Professor António Augusto Gonçalves, e Teixeira de Carvalho, relacionando-se, depois, com homens do gabarito de Vergílio Correia, Joaquim de Carvalho e Álvaro da Costa Pimpão, amigos e colegas nos bons e nos maus momentos.”
Pedro Dias in António Nogueira Gonçalves: nota biográfica, obra científica. Arganil: Câmara Municipal, 1992
“Há longos anos que vivo na cidade, e tão conimbricense me sinto como se nela tivesse nascido. Ela é o meu ambiente espiritual, ela é o meu natural meio de amizades, de simpatias. O encaminhamento do meu espírito, dos meus estudos, da minha curiosidade, para os assuntos artísticos levou a interessar-me tanto pela obra dos artistas do passado como pelas pessoas que nesta metade do século têm executado Arte em Coimbra; entre elas é que se encontram os meus amigos, é do meio delas que sinto vir as simpatias.”
Associação de antigos alunos da escola industrial e comercial de Brotero: Uma palestra do arqueólogo P. Nogueira Gonçalves in Eco Regional de 01.12.1962
Os vastos conhecimentos de António Nogueira Gonçalves e a sua relação de amizade com o Dr. Vergílio Correia, Director do Museu Machado de Castro, levaram-no a aceitar em finais dos anos 30, o cargo de conservador ajudante do Museu Machado de Castro, que dirigiu entre 1944 e 1951, embora nunca tenha sido oficialmente nomeado para o cargo de director.
No museu organizou metodicamente as colecções de cerâmica, ourivesaria e tecidos, tapeçaria e paramentaria, publicando os respectivos catálogos. Colaborou activamente na organização da Exposição de Ourivesaria Portuguesa de 1940 e promoveu, sucessivamente, em 1946 e 1949, as grandes exposições nacionais dedicadas à Iconografia da Virgem e à Escultura Medieval.
Fixei-me na alta. Só anos depois passei ao seminário, onde encontrei segurança, ambiente,amizades, que gratamente recordo e agradeço. Em Coimbra, posto que as receitas fossem modestas,encontrei-me no meu meio. Havia o Museu com colecções únicas: era a escultura medieval, e da Renascença, eram os tecidos ricos e a ourivesaria, a pintura e a cerâmica. Estava o director-fundador, com o qual entrei em relações, a reformar-se. Veio a seguir aquele que foigrande estudioso da Arte nacional o prof. Doutor Vergílio Correia, de delicada simpatia.”
Extracto do discurso de António Nogueira Gonçalves, proferido na entrega da medalha de Ouro do Concelho em 1992
O seu imenso saber e a enorme dedicação que votou ao registo e estudo das colecções ficaram para sempre patentes nos inventários do Museu, nos catálogos de ourivesaria, têxteis e cerâmica, nos mais de 300 títulos publicados abrangendo,além daqueles temas, a arquitectura e a escultura da Idade Média e da Renascença.
“As bibliotecas do Seminário Maior e da Universidade bem como os respectivos arquivos, proporcionavam material abundante, ao que se juntavam os monumentos da cidade, sobretudo no campo da arquitectura, documentando praticamente todos os estilos e correntes, desde o romano aos ecletismos novecentistas. A escultura, a pintura, a ourivesaria e os tecidos estavam e estão, igualmente, bem representados nos museus e nas igrejas coimbrãs dos arredores da cidade do Mondego. A curiosidade, o gosto pelo saber, a tradição familiar de cultura e ensino, tudo isso potenciou o desenvolvimento das suas capacidades inatas.”
Pedro Dias in António Nogueira Gonçalves: nota biográfica, obra científica. Arganil: Câmara Municipal, 1992
Ainda em vida do Doutor Vergílio Correia se começaram os trabalhos de prospecção do Inventário Artístico de Portugal, mas foi já António Nogueira Gonçalves quem editou os volumes referentes a Coimbra: Inventário Artístico de Portugal: Cidade de Coimbra (1947) e Inventário Artístico de Portugal: Distrito de Coimbra (1952) . De seguida, Nogueira Gonçalves, organizou os volumes dedicados ao Distrito de Aveiro: Inventário Artístico de Portugal: Aveiro Zona Sul publicado em 1959; zona norte em 1981 e zona nordeste em 1991. Esta obra foi ricamente ilustrada com fotografias, muitas delas da autoria do próprio António Nogueira Gonçalves e considerada uma obra monumental, um valioso contributo para o conhecimento e estudo do património artístico português.
“O Dr. Vergílio Correia havia feito a visita integral do distrito de Coimbra para o Inventário Artístico. O museu ficou sem director e assim esteve por anos. Eu, sem remuneração alguma,tive a sua orientação técnica.Fiquei com os trabalhos do Inventário Artístico.Distribuir-se-ia por dois volumes, um da cidade e outro do distrito. O do distrito de Coimbra estava visto, anotado e fotografado, faltando só reorganizar o texto. Porém o da cidade só tinha feita a parte que eu escrevera. Acabei esse da cidade, que ficou inteiramente meu. Publicaram-se os dois.No seguimento estava o de Aveiro. Tomei-o em mão.Melhoraram-se os esquemas de inventariação, naquilo que a experiência dos anteriores aconselhara, distribuindo-se por três volumes.”
Extracto do discurso de António Nogueira Gonçalves, proferido na entrega da medalha de Ouro do Concelho em 1992
Para além de ensinar na escola paroquial da Sé Nova de Coimbra, António Nogueira Gonçalves leccionou Literatura Antiga e Moderna, Arqueologia e História de Arte no Seminário, e mais tarde ensinou História de Arte Portuguesa Ultramarina na faculdade de Letras da Universidade de Coimbra.
Em 1968 António Nogueira Gonçalves foi convidado para leccionar História Geral da Arte e História da Arte Portuguesa e Ultramarina na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, equiparado a professor extraordinário, lugar que manteve até à jubilação em 1976. Aí organizou o Instituto de História da Arte, que estava em semi-abandono, lançando, a expensas próprias, o alicerce da sua biblioteca.
“Permitam-me duas palavras mais, da minha actividade como professor universitário, na cadeira de História da Arte. Foram uns quinze anos de ensino. A cadeira era considerada de opção. Tinha bastantes alunos. Haviam-lhe dado, numa classificação geral de salas, o título de Instituto de História de Arte, mas as estantes para livros que encontrei estavam vazias, porquanto se alguns ali estiveram colocados, pertenciam a outro lugar, e para lá tinham voltado.
Era necessário que os alunos não se encontrassem limitados à mera palavra do professor e que por si fizessem a indagação.
Levei alguns meus para lá, ou melhor, um número razoável que ali ficou como fundo, adquirindo outros com as dotações que lhe começaram a ser atribuídas. Acabou por ficar um conjunto suficiente.”
Extracto do discurso de António Nogueira Gonçalves, proferido na entrega da medalha de Ouro do Concelho em 1992
“Quando se jubilou, em 1976, deixou uma biblioteca que, ao tempo e dentro das áreas científicas a que se dedicava, pode ser considerada de bom nível, embora os livros tivessem saído, quase sempre, das estantes da sua biblioteca pessoal ou as facturas tivessem sido pagas pelo seu bolso particular.”
Regina Anacleto in Comarca de Arganil nº 10993 (26.02.2000)
Enquanto professor na Faculdade de Letras, António Nogueira Gonçalves, foi orientador de especialistas nacionais e estrangeiros, tendo sido orientador de mais de uma centena de teses. É também de destacar a sua actividade de conferencista. Ao longo da sua carreira Nogueira Gonçalves proferiu diversas conferências, das quais se destacam A evocação da obra dos canteiros medievais de Coimbra, realizada a 27 de Junho de 1943 nos claustros da Sé Velha, João de Ruão efectuada na Faculdade de Letras, em 28 de Janeiro de 1980 e Alta de Coimbra realizada a 27 de Novembro de 1987 no Arquivo da Universidade.
Após a renovação do curso de História, em 1974, passou a leccionar as cadeiras de História da Arte Barroca e História da Arte Medieval. Foi também professor de Arte Portuguesa nos cursos de férias que a Faculdade de Letras anualmente promovia.
Em 1979 a Universidade de Coimbra reconheceu o seu trabalho e dedicação, através de uma proposta emanada da Comissão Científica do Grupo de História da Faculdade de Letras para a concessão do grau de doutor honoris causa, da qual se transcreve o seguinte extracto: “O revº Pe António Nogueira Gonçalves foi contratado em 1968, como equiparado a Professor Extraordinário, para assegurar, na Faculdade de Letras de Coimbra, a regência das cadeiras de História da Arte e de História da Arte Portuguesa e Ultramarina. Permaneceu em exercício de funções até 1976, data da sua jubilação. Deu à escola, durante oito anos, o seu inestimável contributo como mestre e como homem (…)”.
A proposta foi aceite com o despacho emitido pelo Reitor, prof. Dr. A. A. Ferrer Correia que justifica a atribuição do grau:
«Atendendo aos altos méritos do Sr. Prof. Nogueira Gonçalves e ao valor da sua vasta obra nos domínios da História da Arte, devidamente realçados na proposta da Comissão do Grupo de História para o Concelho Científico da Faculdade de Letras; atendendo também à distinta colaboração que tem prestado, como docente, à mesma Faculdade; ouvido o Conselho Científico-Cultural da Universidade: concedo ao Sr. Prof. António Nogueira Gonçalves, ao abrigo dos textos legais, atrás citados, o grau de doutor honoris causa.»”
In Biblos, vol 58 (1982)
Ao longo do seu percurso Nogueira Gonçalves deu à estampa mais de trezentos trabalhos, quer publicados isoladamente, quer em revistas especializadas, como a Biblos, a Revista da Academia Nacional de Belas Artes, a Revista Portuguesa de História, a Revista de Arte e Arqueologia, o Ocidente, a Ourivesaria Portuguesa, o Mundo da Arte, o Museu, o Tripeiro, a Ilustração Moderna, a Renascença, entre outros.
Publicou também textos diversos em jornais como “A Comarca de Arganil”, o “Jornal de Arganil”, o “Diário de Coimbra”, O “Diário Popular” e o “Novidades”.
Apesar de quase todas as fontes referirem “A capela de S. Pedro de Avô”, publicado em 1925 na revista Alma Nova, como tendo sido o seu primeiro escrito, António Nogueira Gonçalves em carta enviada à Comarca de Arganil, esclarece que “Uma relíquia romana em Pomares”, publicada no referido jornal a 29 de Setembro de 1921, foi o seu primeiro escrito no domínio da História da Arte.
“É no meio dos livros que o Padre Nogueira Gonçalves encontra a serenidade e o enriquecimento da inteligência. Convive com professores universitários, de maneira especial com os da Faculdade de Letras, recebendo e dando informações, trocando conhecimentos.
(…) Mas o Padre António Nogueira Gonçalves não guarda o saber somente para ele, como em torre inacessível. Escreve e compartilha com os outros o que sabe.”
Brito Cardoso in Figuras da Igreja na Diocese de Coimbra: António Nogueira Gonçalves
Os seus trabalhos abrangeram as mais diversas áreas, como Arquitectura, Escultura, Pintura, Ourivesaria, Cerâmica e Tecidos, incluindo um interesse percursor pela Arte Islâmica e pela Arquitectura Militar e num arco temporal estendendo-se da Idade Média ao século XVIII, revelando invulgar à-vontade na análise formal e conhecimento das técnicas utilizadas e incidindo, de igual modo, sobre domínios do saber histórico, como a Epigrafia, a Heráldica e a Paleografia. Porém, foi o período medieval a que primeiramente o mobilizou, com especial destaque para a arquitectura românica de Coimbra, sobre a qual publicou em 1939 o livro Novas Hipóteses acerca da Arquitectura Românica de Coimbra, um primeiro e arrojado ensaio, precedido de outras monografias, como A Sé Velha de Coimbra e A Igreja Românica de Sta. Cruz (1933); A Torre de Sta. Cruz de Coimbra (1935) e A Capela Românica de S. João de Sta. Cruz (1936).
A partir das décadas de 1960 e 1970, o seu interesse concentrou-se sobre a arte do Renascimento, tanto nos domínios da arquitectura como da escultura, tendo produzido nessa época estudos ainda hoje modelares, como O Claustro da Serra do Pilar na Arquitectura Portuguesa e Qual o Filho Mais Velho do Arquitecto Diogo de Castilho? (1968); Tomé Velho – Artista Coimbrão na Passagem dos sécs. XVI-XVII (1972), A Igreja de Atalaia e a Primeira Época de João de Ruão (1974), ou O Mestre dos Túmulos dos Reis (1975).
Especial atenção lhe mereceu também a ourivesaria, à qual dedicou dezenas de estudos, publicados em grande parte na revista Ourivesaria Portuguesa e o coroar desta actividade resultou, respectivamente em 1979, 1980 e 1984, na publicação das obras Estudos de História da Arte da Renascença, Estudos de História da Arte Medieval e Estudos de Ourivesaria.
“Rigor, seriedade, grande conhecimento de todas as outras disciplinas históricas, grande conhecimento das técnicas artísticas, muitas viagens pelo país, feitas sabe Deus com que esforço, foram as bases para uma obra monumental.”
“O prof. Nogueira Gonçalves é hoje, evidentemente, o patrono da nossa História da Arte, é uma referência constantemente presente onde quer que se vá”
Pedro Dias na sessão de atribuição da Medalha de Ouro do Município de Arganil a António Nogueira Gonçalves
António Nogueira Gonçalves, a par de todos os seus interesses, dedicou-se também à fotografia. Foi nos anos trinta director de uma revista dedicada à fotografia, e são da sua autoria quase todas as imagens que ilustram os seus estudos.
Ao longo da sua vida visitou inúmeras exposições quer de fotografia, quer de pintura e nos comentários tecidos em diversos artigos jornalísticos demonstra uma profunda sensibilidade estética.
“(…) Não, não basta para boas fotografias que se tenha uma boa máquina e que o assunto seja bonito. Bons pincéis, boas telas, óptimas tintas e lindíssimos assuntos têm tantos pintores e V. Ex.ª sabe o que aparece por esse mundo.
Para fazer boa fotografia é necessário saber os recursos do material que se emprega, as suas qualidades e deficiências, os seus limites; depois e acima de tudo possuir uma sensibilidade de verdadeiro artista, sabendo compor e compreender não tanto a luz mas as sombras.
E paisagem? Tem de aguardar dias e horas, o jogo da iluminação natural, estudar o enquadramento, a linha do horizonte, valorização dos planos. Que género de camada sensível, que filtro, que exposição, todos os planos focados ou só os primeiros? O resto é fotografia documental, quando muito, essa fotografia que se está acostumado a ver; arte fotográfica é outro mundo! (…)”
A Exposição fotográfica do grupo «Câmara»/ Nogueira Gonçalves
in Diário de Coimbra de 10.12.1948
“(…) A fotografia artística é muito diferente da que tem um fim documental e nada tem com a dos temas bonitos por si.
Foi o erro dos seus começos. Quiseram que ela fosse uma simples seguidora das realizações picturiais, quando tinha meios e fins próprios.
O assunto é independente da fotografia artística.
A fotografia, enquanto for a tradução a branco e preto das imagens reais, há-de ser a arte da luz.
A luz não é uma mera condição para que os objectos apareçam em fotografia, a luz é o fim da fotografia artística; não se buscam os objectivos convenientemente iluminados, mas aquela luz que dá aspectos novos aos objectos comuns.”
A exposição fotográfica do Gupo Câmara/ N. G.
In Diário de Coimbra de 03.12.1952
“Normalmente fotografava monumentos. E era capaz de estar um dia à espera de o sol bater com determinada incidência na peça que queria, para a fotografar nesse momento. As fotografias dele tinham sempre uma enorme qualidade, justamente porque sabia como aproveitar a luminosidade. Não me recordo de ele tirar outro tipo de fotografias, a não ser aquilo a que se pode chamar “fotografia científica”.
Regina Anacleto
Ainda em vida, a carreira de Nogueira Gonçalves foi reconhecida por diversas entidades oficiais. A Academia Nacional das Belas Artes nomeou-o Académico de Honra, a Câmara Municipal de Coimbra impôs-lhe a medalha de ouro da cidade em 1983, o Governo atribui-lhe a medalha de Mérito Cultural em 1991 e a Câmara Municipal de Arganil honrou-o com a atribuição da medalha de ouro do município em 1992.
“Personalidade multímoda, de saber diversificado e profundo escreveu sobre Ourivesaria, Cerâmica, Tecidos, Escultura, Pintura, Arquitectura e tantos outros aspectos da arte (…) Longe dos bulícios e vaidades, discreta e proficuamente construiu uma obra prodigiosa e de excepcional dimensão (…) É para os arganilenses uma grande honra a atribuição da Medalha de Ouro do Município ao senhor Prof. Doutor Padre António Nogueira Gonçalves.”
Fernando Maia Vale, presidente da Câmara Municipal de Arganil na sessão de atribuição da Medalha de Ouro do Município de Arganil a António Nogueira Gonçalves
“A sua excessiva modéstia, contrária ao exibicionismo estulto dos ignorantes, certamente relacionada com a sua maneira de ser, com a educação recebida e com uma vontade indómita impeditiva do compromisso, levou-o a não alardear de forma gratuita, o seu muito saber e projectou quase para o fim da sua vida, quiçá para demasiado tarde, o reconhecimento…”
Regina Anacleto in Jornal de Arganil nº 3721 de 30.30.2000
“É difícil encontrar no nosso país quem tão silenciosamente tenha feito uma obra tão importante… Simplesmente, o prof. Nogueira Gonçalves foi sempre contra qualquer espécie de homenagem.
Pedro Dias in A Comarca de Arganil nº 9873, 1992
António Nogueira Gonçalves viveu no Seminário em Coimbra até pouco tempo antes da sua morte, tendo regressado à sua terra Natal alguns meses antes dessa data. O seu estado de saúde era frágil, levando-o a longos períodos de cama. Foi a Sr.ª d. Arménia da Conceição Bento Diogo, que o acompanhou nos seus últimos meses de vida. Após algum tempo de sofrimento, Nogueira Gonçalves faleceu na sua residência em Sorgaçosa a 25 de Abril de 1998, contava 96 anos.
“Possuía uma indomável força de vontade a toda a prova, e uma verticalidade indobrável e firme coerência (…) O Padre António Nogueira Gonçalves, viveu e morreu pobre. Os livros e necessitados levaram-lhe tudo o que, durante a vida de Professor universitário, poderia ter amealhado.”
Brito Cardoso in Figuras da Igreja na Diocese de Coimbra: António Nogueira Gonçalves. Coimbra: Gráfica, 1998
António Nogueira Gonçalves deixou grandes marcos na cultura portuguesa, quer a nível regional, como nacional. No ano seguinte à sua morte Nogueira Gonçalves foi homenageado com a atribuição do seu nome à Sala de Leitura de Adultos da Biblioteca Municipal de Arganil e a 1 de Janeiro de 2002 foi assinalado na sua terra Natal o centenário do seu nascimento.