DIA NACIONAL DA CULTURA CIENTÍFICA – Rómulo de Carvalho / António Gedeão

O Dia Nacional da Cultura Científica, 24 de novembro, foi instituído em 1997 para comemorar o nascimento de Rómulo de Carvalho e divulgar o seu trabalho na promoção da cultura científica e no ensino da ciência. Além de professor de ciências, foi um notável divulgador científico e um historiador da ciência, da pedagogia e, em geral, da cultura portuguesa.

A outra face de Rómulo de Carvalho chama-se António Gedeão, pseudónimo que adoptou enquanto poeta. Dos seus poemas mais conhecidos destacamos “A Pedra Filosofal” e “Lágrima de Preta”.

Em 1996, Mariano Gago, o então Ministro da Ciência e da Tecnologia e admirador da obra de Rómulo de Carvalho que completava 90 anos, propôs uma homenagem nacional ao talentoso professor.
Rómulo de Carvalho publicou cerca de cem obras, desde livros sobre a história da ciência aos seus cadernos de divulgação científica, não esquecendo os manuais escolares.

Publicou dois livros de divulgação de ciência em três números da colecção “Biblioteca Cosmos”, dirigida por Bento de Jesus Caraça.
Foi mentor e autor da coleção “Ciência para Gente Nova”, onde publicou oito dos nove livros dessa coleção. Tratam de histórias de ciência ou de desenvolvimentos tecnológicos: o do telefone, da fotografia, dos balões, da eletricidade estática, do átomo, da radioatividade, dos isótopos e da energia nuclear.
Rómulo de carvalho procurou nas suas obras levar a ciência ao povo através de uma linguagem simples. Em “Física para o Povo” a sua intenção, como diz nas suas “Memórias” foi de promover a cultura popular. Em 1995 saiu uma nova edição deste livro agora com o titulo “A Física do dia a dia”.

Faleceu em fevereiro de 1997

PEDRA FILOSOFAL

Eles não sabem que o sonho
é uma constante da vida
tão concreta e definida
como outra coisa qualquer,
como esta pedra cinzenta
em que me sento e descanso,
como este ribeiro manso
em serenos sobressaltos,
como estes pinheiros altos
que em verde e oiro se agitam,
como estas aves que gritam
em bebedeiras de azul.

Eles não sabem que o sonho
é vinho, é espuma, é fermento,
bichinho álacre e sedento,
de focinho pontiagudo,
que fossa através de tudo
num perpétuo movimento.

Eles não sabem que o sonho
é tela, é cor, é pincel,
base, fuste, capitel,
arco em ogiva, vitral,
pináculo de catedral,
contraponto, sinfonia,
máscara grega, magia,
que é retorta de alquimista,
mapa do mundo distante,
rosa-dos-ventos, Infante,
caravela quinhentista,
que é Cabo da Boa Esperança,
ouro, canela, marfim,
florete de espadachim,
bastidor, passo de dança,
Colombina e Arlequim,
passarela voadora,
pára-raios, locomotiva,
barco de proa festiva,
alto-forno, geradora,
cisão do átomo, radar,
ultra-som, televisão,
desembarque em foguetão
na superfície lunar.

Eles não sabem, nem sonham,
que o sonho comanda a vida.
Que sempre que um homem sonha
o mundo pula e avança
como bola colorida
entre as mãos de uma criança.