8º ENCONTRO SOBRE A HISTÓRIA DO CONCELHO DE ARGANIL
Decorreu no dia 15 de novembro na Biblioteca Alberto Martins de Carvalho em Coja o 8º e último Encontro sobre a História do Concelho de Arganil, em que se homenageou uma personalidade do concelho de Arganil, D. José Alves Mattoso.
Numa excelente intervenção da Mestre Lina Madeira ficámos a conhecer várias facetas deste homem que foi assumindo cargos de cada vez maior responsabilidade sempre com grande humildade e sentido do dever.
Nas palavras da Mestre Lina Madeira:
D. José Alves Mattoso teve uma vida longa. Nasceu a 18 de Fevereiro de 1860, na aldeia do Pisão, freguesia de Côja, falecendo a poucos dias de completar 92 anos, na Guarda, a 1 de Fevereiro de 1952. Fez os seus estudos em Coimbra, concluindo o curso teológico em 1880. Ao Seminário daquela cidade dedicou os trinta e quatro anos que se seguiram, primeiro na qualidade de professor, depois como prefeito, secretário e vice-reitor. De permeio, foi nomeado cónego honorário da Sé de Coimbra, em 1891, e cónego capitular, em 1900. O título pelo qual ficou conhecido, ou seja, o de bispo da Guarda, foi-lhe atribuído em 2 de Outubro de 1914. Tratou-se do 52.º prelado daquela cidade e um dos que mais tempo se manteve investido nas funções episcopais. Precisamente durante trinta e sete anos. Foram décadas intensas. De combate, inicialmente, por causa de uma Lei da Separação da Igreja do Estado para a qual o País ainda não estava preparado. De grande entrega ao serviço do Catolicismo, acima de tudo, fosse através do altar, das publicações por si patrocinadas, da recuperação do património nacionalizado pela República ou, muito simplesmente, dos convívios entre paróquias. Porque há muitas maneiras de se fazer a vontade do Pai. Uma vez por ano, pelo menos, impunha-se retornar à sua aldeia natal. Para estar entre aqueles que o viram nascer e dar os primeiros passos. Para se inteirar acerca dos que, entretanto, haviam nascido e, tanto quanto lhe fosse possível, guiar-lhes as passadas. Pelos caminhos da Fé. Porquanto «o Senhor Bispo era muito bom conselheiro». Assim o recordam todos quantos tiveram a oportunidade de com ele conviver. Os mais velhos. Já muito velhos. Aqueles cuja memória vai atraiçoando um pouco. Mas não ao ponto de se esquecerem das palavras do Senhor Bispo ou dos miminhos por ele oferecidos. Sempre após o beijar do anel. Um gesto de reverência. Para alguém que, não obstante ter ocupado lugares cimeiros em vida, quis descer ao chão do jazigo da família, após a morte. Do pó nascido, ao pó regressado. Mas não apagado. Nem das páginas dos livros. Nem da memória das (suas) gentes.
O Prof. José Mattoso nome maior da historiografia portuguesa e sobrinho-neto do homenageado, apesar de ausente fisicamente não quis deixar de se associar ao evento enviando-nos um texto que aqui publicamos:
RECORDANDO D. JOSÉ ALVES MATTOSO
Tenho muita pena de não poder assistir à palestra de hoje, proferido pela Senhora Mestra Lina Alves Madeira acerca de uma personalidade bem conhecida e venerada na província da Beira e que exactamente há um século ascendeu ao episcopado da Guarda.
Como seu sobrinho-neto e, portanto, como representante da família, não queria deixar de marcar a minha presença e a de meus irmãos neste momento em que se recorda a personalidade de D. José Alves Mattoso, contribuindo com algumas breves notas colhidas na memória familiar para recordar o nosso tio. Evocando episódios relatados por nosso pai, António Gonçalves Mattoso, recordamos a severa bondade com que educou os seus quatro sobrinhos órfãos de pai, desde a mais tenra infância, o seu prestígio como reitor que foi do seminário maior de Coimbra, a dignidade com que cumpriu o período de exílio fora da diocese como pena sentenciada pela República, em virtude da sua oposição à lei da separação entre a Igreja e o Estado, o respeito ideológico pelas opiniões de personalidades republicanas, contribuindo assim para uma efectiva atenuação do conflito entre a Igreja a República. Entre estas personalidades menciono apenas o Dr. Fernando do Vale, cuja figura está na memória de todos os arganilenses.
A figura de D. José Alves Mattoso é ainda hoje recordada no Pisão, onde ele tinha a sua casa de família, onde passava as férias das suas funções episcopais e onde viviam seus irmãos o Padre António Alves Mattoso e Dona Amabília Alves Mattoso e seu cunhado João Alves Mattoso. Era aí que eu e meus irmãos passávamos férias e aí que se situam as nossas memórias de infância. Foi também aí que conhecemos muitas pessoas da região e da aldeia. As da aldeia recordavam com saudade os tempos em que ele dava catequese às crianças e procurava incutir-lhes as bases de uma cultura cívica. Aprendemos com ele e com meu Pai a cultivar a estima pela história, pelo património e pela identidade regional e local, apoiando as iniciativas culturais da região. Entre elas a publicação do jornal A Região de Arganil, do qual meu pai foi sempre um colaborador activo e para o qual escreveu centenas de artigos. Herdámos dele e do «tio bispo», como lhe chamávamos em nossa casa, uma atitude de solidariedade social para com a comunidade regional e local. Foi por isso que eu e os meus irmãos decidimos, quando já poucos laços nos ligavam à casa do Pisão, entregá-la ao Centro Social da Paróquia de Coja para lhe dar a utilidade social que a sua Direcção entendesse. A casa pertence agora ao povo de Coja. Espero que possa contribuir, directa ou indirectamente, para a melhoria das condições de vida da quem necessita de ajuda. Não duvido que o «tio bispo» deixasse de aprovar esta decisão que de alguma forma prolonga a sua presença entre nós.
A Senhora Vereadora da Cultura, Paula Dinis agradeceu à palestrante a sua disponibilidade para colaborar nestes Encontros e traçou o percurso desta iniciativa da Câmara Municipal, que tem decorrido todos os meses desde Março e que sintetizou assim:
Estamos a encerrar o nosso ciclo de Encontros sobre a História do Concelho de Arganil!
Ao longo de 8 Palestras., foram abordados temas do nosso Património Histórico, Cultural e recordadas Personalidades do nosso Concelho.
-Desde a Lomba do Canho, Património arqueológico com valor reconhecidíssimo, apresentada pelo Professor Carlos Fabião em que foi destacada a fixação do campo romano nas margens do rio Alva dada a sua riqueza aurífera
-Passando pela apresentação da Professora Regina Anacleto que nos falou da história do Convento de Santo António de Vila Cova do Alva e do Mosteiro de S: Pedro de Folques
-Os vestígios Romanos em Coja pela Professora Conceição Lopes, que nos veio falar da importância estratégica de Côja nas antigas vias romanas, tendo trazido a boa notícia do Marco Miliário, que ainda recentemente foi apresentado em Conferência no estrangeiro
-A análise do Professor Rui Cascão, sobre a sociedade Arganil do séc XIX , com uma brilhante apresentação, ilustrada com números muito interessantes para a compreensão do nosso passado e futuro.
-Os alertam deixados pelo Dr. João Figueira sobre o património histórico da Eletricidade no nosso concelho e limítrofes.
-Os farmacêuticos célebres de Coja foi o tema escolhido pelo Professor Pita , para recordar três grandes homens que dedicaram a sua vida à investigação científica, resultando dela importantes avanços e descobertas na área da Farmacognosia e da Farmácia Galénica.
-Arganil nos anos 60- pela Dra Olívia Nogueira que com uma grande pesquisa nos brindou com um trabalho excelente, trazendo-nos á memoria acontecimentos da História recente, pessoas que tiveram um papel fundamental e determinante nesses acontecimentos, os quais condicionaram o desenvolvimento económico e social do nosso concelho.
– Hoje Lina Madeira falou-nos de D. José Alves Matoso, tão ilustre Bispo, que teve um papel tão importante na Igreja e suas leis.
Chegámos ao fim deste Ciclo e o balanço não poderia ser mais positivo:
Todos ficámos mais enriquecidos ao ouvir tão ilustres palestrantes, e teremos a publicação das apresentações em Livro!
Os alertas foram dados, as chamadas de atenção ficaram registadas!
Vamos continuar!
Não posso terminar sem deixar de agradecer:
-Dra Margarida Fróis coordenadora das Bibliotecas concelhias que tão empenhadamente colaborou na organização deste Ciclo de Encontros
-Todos os colaboradores que directamente e indirectamente estiveram ligados a estes Encontros
-Á comunicação social sempre presente, contribuindo para o êxito desta iniciativa, levando-a ao conhecimento de muitos que gostariam de estar presentes
-A todo o público aqui presente – demonstra o interesse por estes temas e deixa-nos com vontade de novos desafios
-A todos os Palestrantes que acreditaram e aceitaram fazer parte deste Ciclo de Encontros sobre a História do Concelho de Arganil