Vila Cova do Alva
Subsídios para a História de Vila Cova
Texto do ponto 1.3 da Candidatura às Aldeias de Xisto apresentado pela Câmara Municipal de Arganil
1 – Origens
Pouco se sabe das origens de Vila Cova do Alva. No entanto, no documento de doação do castelo de Coja e suas terras, ao bispo de Coimbra, por D. Teresa, em 1121, é fixado legalmente o termo de Coja que, aliás, já era antigo. Este termo confrontava com Avô pela vertente de Anseriz até ao Alva e aqui seguia ao cabeço do Cazoirado seguindo por entre Ázere e Tábua até ao Mondego.
Ora encontramos este nome Cazoirado referindo-se ao lugar onde se encontra hoje a capela de S. João de Alqueidão. Traçando no mapa uma linha que siga o termo de Coja encontramos obrigatoriamente este local. O nome Vila Cova efectivamente não aparece referenciada nos documentos mais antigos sobre Coja ou Arganil. Este facto leva-nos a pensar que a povoação não existiria, sendo apenas um ponto de passagem e de vigilância militar.
Capela de São João de Alqueidão
1.1 – Casoirado e Alqueidão
Em Portugal muitas aldeias e montes, nascidos dos Castros, perduraram, nestas e nestes, por muitos anos e o respectivo nome foi-se alterando. Ao longo dos séculos a ocupação destes lugares pelos romanos, visigodos, árabes, cristãos foi-se alternando e os nomes também foram sofrendo as alterações a que a cultura dos povos ocupantes obrigava. Os redutos referidos em alguns documentos como atalajas, seriam pontos de vigia que em tempos conturbados pela guerra serviriam de aviso à aproximação do inimigo. Alqueidão, que significa em árabe passos ou passadas, deve ter sido uma destas atalajas. Situado entre os castelos de Côja e Avô, mandados construir em tempos da reconquista do território aos mouros, nesta zona de avanços e recuos durante séculos, cujo território seria ocupado ora por cristãos, ora por muçulmanos, parece normal que este local tenha desempenhado algum papel importante em tempos de guerra, não como povoamento mas como ponto de passagem e de apoio a estratégias militares. A existência de uma ponte que atravessa o Alva precisamente na actual Vila Cova faz imaginar a existência de outra mais antiga, como refere Carlos Ydalgo Gomes de Loureiro em documento que ofereceu a seu primo Bernardo de Abranches Freire de Figueiredo e onde escreve: “Embora não se saiba a data da fundação da referida ponte deve-se ter em conta a informação de que quando procediam à sua demolição, em 1790 foi ali encontrada uma ARA romana com inscrições. Esta ARA foi levada para a casa da Câmara. Este facto vem provar que Vila Cova é uma terra antiga, não como povoado, mas como ponto de passagem de muita importância”.
Ora percorrendo a estrada que passa a ponte, verificamos que ela se encaminha directamente para a actual capela de S. João de Alqueidão, situada em local que, como vimos, há a possibilidade de ter constituído um ponto de vigilância em tempos de guerra. Por outro lado é óbvio constatar a importância desta ponte que atravessa o Alva e faz a ligação para zonas mais interiores, nomeadamente o Piódão.
Isto leva a crer que logo após a reconquista cristã e criada a paz no reino, Vila Cova se desenvolveu, possivelmente com pessoas que se foram fixando e que, mercê dos esforços na guerra, receberam benefícios reais ou do clero, dando origem a um povoado que depois se estendeu para junto do rio.
Outro aspecto muito importante é a proximidade da estrada real de Coimbra à Guarda que passava a cerca de 7 Km e que seria um bom eixo de desenvolvimento para Vila Cova.
Capela de São João de Alqueidão
1.2 – A capela de S. João de Alqueidão
A capela de S. João de Alqueidão situa-se num monte sobranceiro a Vila Cova distando menos de um quilómetro. Desse local avista-se um largo panorama desde as serras do Buçaco, Caramulo e Estrela.
Consultando o livro dos Assentos de Baptismo de Vila Cova referentes ao período entre 1530-1633, a seguir ao termo de encerramento do mesmo, encontra-se a seguinte nota: “Em o derradeiro dia de Maio da era de 1633, eu prior Manuel Nunes disse a primeira missa em a capela de Sam João Bautista que mandei fazer.”
Em 1721 a Academia Real da História, recentemente fundada sob a égide de D. João V, pretendendo reunir todos os elementos possíveis sobre cada povoação do Reino, solicita a todos os párocos, que lhe fossem enviados os dados mais relevantes sobre cada paróquia. O prior Ferreira dos Santos padre de Vila Cova, respondeu e referindo-se às hermidas do povo, cita em primeiro lugar a hermida de S. João de Alqueidão “que hê fama vulgar, foi antigamente igreja matris.”
1.3 – Antecedentes da actual capela
Segundo a tradição oral teria existido em tempos remotos, neste local, a Igreja matriz da povoação sob os desígnios de “S. João de Anseriz”, S. João do Cozoirado” (vulgo Mata) e ainda “S.João de Alqueidão”.
Em 1986, o Padre Januário Lourenço dos Santos orientou um programa de escavações com jovens do OTL, tendo posto a descoberto o corpo principal da Igreja que se supõe ser de uma só nave. Mais tarde, o Serviço Regional de Arquelogia do Centro, com subsídio da Câmara Municipal de Arganil, prosseguiu em 1989 as explorações arqueológicas. Como disse a Dra. Teresa Pinto Mendes no discurso de inauguração do novo edifício da Junta de Freguesia de Vila Cova, em 1993, estas últimas parecem confirmar que para além da Igreja teria havido naquele local um povoado importante. Segundo Carlos Gabriel Gonçalves, o antigo templo “Era constituído por uma nave, capela-mor e provavelmente nartex ou recinto que antecedia a entrada principal, destinada aos catecumas e penitentes. Quanto à nave da antiga igreja seria, tudo leva a crer, bastante ampla.
A actual capela foi construída nesta última parte. A entrada para a actual capela é formada por um arco românico com pilastras e capitéis. Da capela-mor resta a base de uma pilastra em granito que ainda não foi removida do local primitivo.
A primitiva igreja fora construída com materiais pobres, pensa-se que terá sido utilizado uma qualidade de xisto pouco duro que existe perto do local, assente em argamassa, mas com terra o que levou à sua rápida degradação. O pavimento era de lousa de xisto que ainda existe, bem como restos de paredes.
Com as escavações ficaram a descoberto as paredes da antiga igreja e os referidos contrafortes. Encontravam-se várias pedras de granito, como uma base de pilastras jónicas, pedras de uma pilastra, algumas cabeceiras e sepulturas visigóticas e fragmentos de cerâmica. Todo o recinto à volta da igreja era cemitério. Fizeram-se várias sondagens e a uma determinada profundidade encontraram-se sepulturas antropomórficas. Os cadáveres eram cobertos com lajes. Nalgumas sepulturas ainda se puderam observar ver vestígios de ossos.
Na terra que cobria as sepulturas encontraram-se pedaços de cerâmica variada o que mostra que foram removidas várias vezes.
A existência dos vestígios descritos leva a crer num desenvolvimento populacional de uma certa importância.
imagem retirada de Miradouro do Alva
1.4 – Forais
A primeira fonte segura que refere Vila Cova é o documento que indica a atribuição de foral dado pelo Bispo de Coimbra, D. Estêvão Anes Brochado, entre os anos 1302 e 1314. Este foral é confirmado por Dom João Galvão Bispo de Coimbra a 14 de Janeiro de 1471 e confirmada de novo por Dom Manuel I, em 22 de Setembro de 1514.
Em 1527, no cadastro da População ordenado por D. João III, Vila Cova possuía 89 fogos.
Em 1708, segundo se lê na Chorographia Portugueza, Vila Cova era vila e concelho da Comarca de Viseu, provedoria da Guarda e priorado com 250 fogos, pertencente à diocese de Coimbra, cujos bispos eram donatários deste concelho, por ser parte integrante do condado de Arganil.
Vila Cova foi sede de Concelho, com priorado, sendo donatários os bispos de Coimbra e condes de Arganil, já que Vila Cova pertencia a este Condado. Tinha 1 juiz ordinário, 2 vereadores, 1 procurador do concelho, 1 escrivão da Câmara, 3 do judicial, notas e órfãos e uma companhia de ordenanças. O concelho foi extinto em 1836.
in, Forais Manuelinos – Beira, direção de Luis Fernando Carvalho Dias
Convento de Santo António no inicio do Século XX
Pormenor do convento – claustro
2 – Vila Cova sob o aspecto religioso
2.1 – O Convento de Santo António
A construção do convento de Santo António, no início do século XVIII, exerceu benéfica influência religiosa em toda a freguesia.
Em 1721 o prior Ferreira dos Santos padre de Vila Cova, no documento já citado, informa que por volta de 1710 vieram para esta vila alguns religiosos da ordem de Santo António também chamados de frades Capuchos, para umas casas vagas que provisoriamente lhes serviram de hospício enquanto esmolavam para realizar a obra de edificação de um convento a que deram inicio em 1713, aproveitando o terreno do cazoirado que lhes tinha sido doado.
Vila Cova, reclinada sobre um fundo de milheirais, espreitada por vinhas que descem das varandas de avô em socalcos; rodeada de colinas arborizadas e semeada de povoações era pois uma Vila que apresentava algum desenvolvimento económico e social, que chegou a ser denominada como Vila Cova “dos frades” com a chegada destes e o início da construção do mosteiro.
Os frades encontraram no Senhor Manuel Faria Neto e em sua esposa, D. Maria da Costa dos Garcias os seus mais valiosos auxiliares abaixo do bispo D. António de Vasconcelos e Sousa que lhes obteve todo o terreno preciso, boa cerca e mata abundante de água. Os Osórios Cabrais, os avoengos dos Condes da Guarda, os Brites de Faria, de Vila Cova e Vinhó e muitas outras famílias de Anceriz, do Barril do Alva, de Avô, do Goulinho de Pomares e povos da serra contribuíram para as obras do convento. No ano de 1713 já as obras do convento estavam muito adiantadas. Nesse ano veio a Vila Cova o bispo da diocese de Coimbra Dom António de Vasconcelos e Sousa lançar a primeira pedra para a Igreja do convento.
Mas é D. Luís da Costa Faria filho de Manuel Faria Neto e de D. Maria da Costa dos Garcias, casal que desde a sua chegada apoiou os frades antoninos, moço fidalgo da casa real, desembargador do Paço e Governador da Índia que deu novo impulso às obras, disponibilizando avultadas quantias, madeiras e outros materiais a fim de apressar a construção do convento, para onde foi viver até à sua morte em 24 de Abril de 1730 tendo sido sepultado na Igreja do Convento, junto ao altar de S. Francisco.
Os frades habitaram o convento durante cerca de 120 anos. Com a revolução Liberal e o fim das ordens monásticas o convento foi encerrado e vendido a D. José Cupertino da Fonseca e Brito que o deixou a seu filho Padre Alexandre Cupertino Castelo Branco, em 1866. O padre Alexandre Cupertino Castelo Branco foi o seu reformador abrindo janelas amplas e transformando as celas em quartos e salas, construindo junto ao local da antiga enfermaria uma casa nova estilo nórdico e colocando em todo o edifício telhado novo. A morte não o deixou completar a obra. Por não ter filhos deixou todos os seus bens a seus primos Bernardo de Figueiredo Ferrão Freire e Conselheiro Albino d’Abranches Freire de Figueiredo, sendo este a terminar as obras iniciadas.
A construção da estrada a macdame atravessou os quintais da casa da praça. Os terrenos que ficaram da parte de baixo foram vendidos, os de cima foram anexados ao convento levando à construção de uma nova entrada para o convento construída pelo novo proprietário Bernardo d’Abranches Freire Figueiredo, filho do anterior proprietário que faleceu em 1912.
2.2 – As Irmandades
Segundo os documentos disponíveis, o período em que a vida religiosa de Vila Cova atingiu maior esplendor vai do século XV ao século XVIII.
A informação do Prior Ferreira dos Santos de 1721 refere que naquela data havia em toda a freguesia 9 Ermidas e que “pelo rol de confessados da Quaresma deste presente anno, tem esta freguesia cento e noventa e seis fogos e seiscentos e setenta e seis pessoas de sacramento entre maiores e menores.”
Os paramentos e alfaias religiosas existentes, provam que todo o século XVII foi de grande esplendor na vida religiosa em Vila Cova. Na primeira metade do século XVIII havia em Vila Cova quatro Irmandades.
2.2.1 – Irmandade do Santíssimo
Segundo um documento que pensamos ser da autoria do padre Januário Lourenço dos Santos, existiria ainda no arquivo da Paróquia de Vila Cova um exemplar dos Estatutos da Irmandade do Santíssimo mandado imprimir pelo então bispo de Coimbra D. Jorge de Almeida eleito em 1481, onde se pode ler: “Sumário das Graças e indulgências e faculdades concedidas pelo Santo Padre o Papa Paulo Terceiro à confraria do Santíssimo Sacramento para todo o bispado de Coimbra” (ortografia actualizada). No final deste sumário diz que “Ho presente sumário foy impresso em Coymbra por mandado do Senhor Dom Jorge Dalmeyda, bispo do dito Bispado…”.
Podemos, pois, concluir que no sec. XV existia nesta freguesia uma Irmandade do Santíssimo regida pela disposição do Papa Paulo III. Na introdução ao referido “Sumário – Estatutos, diz-se: “O nosso muy santo padre ho papa Paulo Terceyro consirando a presença de Deos todo poderoso que está ante nos em ho Santíssimo Sacramento: pêra provocar que ho tenha em muyta reverência os fieis Christãos: quando se leva aos enfermos vaa muyto acôpanhado e reverenciado como a tam alto sacramento se requere ordenou esta Sacta Confraria e Irmandade ….”
Festividades Religiosas
2.2.2 – Irmandade de S. Sebastião
No final do sec. XVI havia em Vila Cova grande devoção ao Mártir São Sebastião, bem como aos santos Martins Abdor e Seneu, vitimas das perseguições do imperador de Roma Déciono no século III.
Em 1598, o Papa Clemente VIII, por uma bula instituiu a Irmandade de São Sebastião à qual concede muitas graças e privilégios. Esta Irmandade foi muito florescente.
Em 1614, nova bula do papa Paulo V concede novas graças e privilégios passando a Irmandade S. Sebastião a designar-se por Irmandade de S: Sebastião e Santos Mártires Abdon e Seneu. A grande devoção aos santos Mártires Abdon e Seneu consta, segundo informação existente nos arquivos da Biblioteca Municipal Miguel Torga, de documentos autênticos arquivados na paróquia de Vila Cova.
Segundo as fontes, o Desembargador do Arcebispo D. Jorge de Almeida, Doutor Francisco de Campos, natural de Vila Cova, falecido em 1608, deixa, no seu testamento a Vila Cova umas relíquias dos referidos mártires e de outros santos: – “Eu tenho hu cofre de veludo carmesim de ferragem dourada que esta a minha cabiseira em q estam Relíquias dos bemabenturados Mártires Abdon e Senen com outras de outros Santos com seus litreiros, as quais Relíquias, deixo a Vila Cova minha Patrea no bispado de Coimbra por especial devasam que tem aos ditos Santos e com ellas lhe deixo cem cruzados pera se lhe fazer hu sacrário pera elas e se festejar seu recebimento …”
Como houvera as referidas relíquias o Dr. Francisco de Campos? Isso consta do processo de autenticação daquelas relíquias a que se procedeu por ordem do então Bispo de Coimbra Dom Afonso de Castelo Branco. Depuseram algumas testemunhas e segundo o depoimento de uma delas, um certo Ynácio de Campos que disse ser primo do irmão do referido Doutor Francisco de Campos e declarou mais que “ellas (as referidas relíquias) foram do arcebispo Dom Jorge Dalmeida e que ficaram por morte do dito Arcebispo a huma Donna Anna sua irmã e ella as dera ao dito doctor por ser seu confessor e lhe disse algumas vezes missa na sua capella e assi por lhe dizer q as não podia ter tam veneradas como devia e outro sopor si por o dito doctor Francisco de Campos ser Desembargador do Arcebispo…”. João Nunes morador em Vila Cova , na sua qualidade de procurador da câmara foi quem se encarregou de transportar e de entregar as relíquias a Vila Cova.
Depois do Inquérito a que aludimos, o Bispo de Coimbra declarou autenticas as referidas relíquias por um documento de Dom Afonso de Castelo Branco, conde de Arganil.
2.2.3 – Irmandade das Almas
Segundo a informação que consta no documento da Reforma dos Estatutos da Irmandade da Misericórdia, a Irmandade das Almas foi instituída na Igreja Matriz de Vila Cova a 4 de Março de 1723 e” foi dotada pelo Desembargador Luiz da Costa Faria por escritura feita em dezanove de Março do dito ano de 1723 com a quantia de quatro mil cruzados para serem postos a juro e além disto doto-a mais com um legado de 40 000 reis anuais, imposto em um vinculo que instituiu nos bens que tinha em Alvarelhos d’Oliveira do Conde ….”
2.2.4 – Irmandade da Misericórdia.
Não temos conhecimento da data exacta em que foi criada, mas sabe-se que em 1755 já existia.
Segundo a noticia histórica da Instituição da Irmandade da Misericórdia e reforma dos estatutos de 31 de Maio de 1888 diz-nos que: “em 1 de Março de 1755 reuniram-se na Igreja Matriz as Mesas e Irmãos da Irmandade da Misericórdia e os da dita Irmandade das Almas e expondo a Mesa da Misericórdia razões pelas quais se não podiam sustentar quatro Irmandades, que então existiam nesta Vila, deliberaram todos que a Irmandade das Almas se unisse à da Misericórdia e formando uma só e tomando por seu Patrono o Senhor das Misericórdias e reformaram logo os seus estatutos.”
A Irmandade da Misericórdia é a única que subsiste, estando associada à Santa Casa da Misericórdia de Vila Cova do Alva.
Igreja Matriz
Capela da Misericórdia
Igreja Convento e escadaria
3 – Monumentos
3.1- Religiosos
3.1.1 – Igreja Paroquial / Igreja matriz
É dedicada a Nossa Senhora da Natividade. A fachada é datada de 1712. Era então prior de Vila Cova o Padre Bartolomeu Gonçalves que se empenhou junto dos filhos de Vila Cova que foram para Olinda à procura do tão ambicionado ouro brasileiro e, entre eles, arranjou dinheiro para a reconstrução da Igreja matriz, obras que terminaram em 1712 à custa do estado. Frei Dionísio da Costa Garcia, era muito bem visto no paço do rei. O irmão deste frade, também frade, Frei Manuel do Nascimento foi para Olinda e foi o iniciador do peditório ali. Sabe-se, no entanto, que as obras tiveram também o grande apoio de Luís da Costa Faria.
Tem duas capelas interiores – uma a direita consagrada a descida di espírito santo, a da esquerda apresenta no altar uma imagem da senhora da piedade com Cristo no regaço, em pedra de anca, manuelina, do principio do século xvi.
O portal, de vão rectangular, acompanhado de pilastras com remate em forma de nicho que alberga uma imagem da virgem com o menino.
O interior é amplo com duas capelas que se abrem na nave sendo uma delas consagrada ao Espírito Santo. Os tectos são apainelados em caixotões decorados com motivos setecentistas, na capela-mor e de cenas hagiográficas no corpo.
Os cinco retábulos existentes na Igreja são da primeira metade do século XVIII. São em madeira dourada com colunas torcidas e com pâmpanos. O principal é mais ostentoso alberga a imagem da padroeira, nossa senhora da natividade.
3.1.2 – Capela da Misericórdia
Situada na praça do pelourinho, com frontaria barroca, muito interessante, do século XVIII. Compõem-na duas zonas: uma quandragular enquadrando o portal e a segunda ornamentada com um frontão interrompido onde se acomoda um alto nicho com uma escultura da virgem com o menino dos séculos XV-XVI.
O portal, de pilastras molduradas e ladeadas de aletas, tem um pequeno frontão interrompido com outros arranjos que emolduram um óculo quadrilobado
3.1.3 – A Igreja do convento
A Igreja do Convento segue o tipo comum dos templos da ordem. A planta é cruciforme. O coro conserva o cadeiral de castanho, de espaldares apainelados com 24 cadeiras distribuídas por duas ordens.
Os retábulos são em talha magnificamente trabalhada sendo, bem como as esculturas que aqui se encontram, do início do século XVIII.
Possui ainda um órgão com elementos Rococó.
Solar dos Condes da Guarda
Solar Abreu Mesquita
Pelourinho
Rua Quinhentista
3.2 – Civis
3.2.1 – Solar dos condes da Guarda
Propriedade dos pais de Dom Gaspar Afonso da Costa Brandão bispo do Funchal. Em meados do século XX passou por compra para a posse de Sr. Adelino de Almeida Teixeira que o demoliu e construíu o edifício actual. Mantém a fachada da capela do solar, na qual sobressai o brasão de armas com a data de 1629.
3.2.2 – Edifício dos Osórios Cabrais, no largo do Pelourinho.
Casa do século XVII, com sacadas de verga cornijada, bacias molduradas e grades de ferros da época, que foi mais tarde a Casa da Câmara. Pertence actualmente ao Sr. António Bernardo Gonçalves de Carvalho sendo conhecida como a casa da praça.
3.2.3 – Solar Abreu Mesquita
Situa-se ao lado da Igreja, é uma casa datada do ano de 1828, diferente do restante conjunto devido à sua varanda coberta, vulgarmente designada por marquise, que ostenta ornatos muito curiosos em madeira, entre as telhas e a cobertura.
3.2.4 – A escadaria que conduz à igreja do Convento
Construção muito interessante que faz lembrar o estilo da escadaria do Bom Jesus de Braga.
3.2.5 – Pelourinho
O Pelourinho é do século XVI em estilo manuelino. Tem fuste octogonal de granito emoldurado na base. O capitel é coroado de agudo remate (com esquinas e faces adornadas) e moldurado na base e no capitel.
3.2.6 – Rua quinhentista
A rua que conduz à Igreja matriz pode afirmar-se ser globalmente quinhentista, porque as casas mostram abertura guarnecidas de granito aparelhado com esquinas sistematicamente chanfradas e ao lado das vergas rectas aparecem algumas arqueadas e lobuladas à moda manuelina.
Esta rua que parece ligar toda a zona mais antiga da aldeia dá testemunho de uma riqueza e de um desenvolvimento económico que testemunha o que já foi dito para o período de oiro do desenvolvimento religioso, séculos XVI a XVIII. É evidente que esta rua evidencia esse desafogo económico. Todas as casas de que restam vestígios têm esses traços quinhentistas. Quiçá a ruralidade de um estilo manuelino pobre é no entanto o estilo manuelino que está ali presente nas janelas e nas portas, em granito aparelhado. Isto demonstra poder económico.
4 – Os estragos causados pela terceira Invasão Francesa
O prior Manuel Lopes Garcia deixou-nos uma relação dos roubos, incêndios, mortes e atrocidades que os franceses fizeram na freguesia de Vila Cova, então designada de Sub-avô.
A 16 de Março de 1811 durante a terceira invasão, os franceses entraram em Vila Cova quebrando e arrombando portas, despejando tulhas de cereais e adegas levando tudo o que podiam e queimando e estragando o resto.. Da Igreja matriz fizeram celeiro e armazém do que roubavam e da Igreja destruíram muitas coisas de valor e ainda roubaram o azeite da confraria. Na casa da Misericórdia arruinaram o altar mor, quebraram pedras d’ara edestruirma paramentos e outros objectos sagrados.
No convento de Santo António roubaram comida, roupas, danificaram e queimaram imagens e o órgão, queimaram móveis.
Na casa da ordem terceira queimaram imagens e danificaram muitos objectos.
Queimaram 11 casas e mataram 13 pessoas, mais 2 que morreram por causa deles, ao todo 15 pessoas morreram.
Somados os estragos ascenderam a 10 260$000 reis.
Terá sido este acontecimento, o início do declínio de Vila Cova do Alva?
5 – Personalidades
Desde tempos remotos que Vila Cova viu nascer personalidades da mais alta condição. Tanto no poder político, como na Igreja as ligações foram ao mais alto nível o que de certa forma justifica o nível social que a aldeia indicia principalmente desde o século XV.
– Luís da Costa Faria, filho de Manuel Faria Neto e de D. Maria da Costa. Embora nascido em Arganil foi com sua mãe para Vila Cova ainda bebé onde cresceu. Foi moço fidalgo da casa real, desembargador do Paço e Governador da Índia. Nasceu em 1648 e faleceu em 1730.
Está sepultado na Igreja do convento, junto ao altar de S. Francisco.
– Silvestre Freire de Faria e Costa, filho de Bento José Freire de Faria Sequeira Giada. Bacharel em Cânones foi vigário geral em Aveiro
Dr. Francisco de Campos, desembargador do Arcebispo D. Jorge de Almeida, faleceu em 1608.
– Frei Manuel do Nascimento, natural de Vila Cova Sub-Avô que professou no Instituto Seráfico da reformada província da Conceição de Lamego em 1717.
Foi missionário antes, no Brasil e no seu regresso Comissário dos Terceiros franciscanos em Lamego e depois foi para Viseu onde o seu nome ficou nos Anais Históricos
– Manuel homem de Figueiredo – desembargador do paço e juiz da coroa
– Manuel homem – filho deste ultimo – cavaleiro professo da ordem de Cristo e corregedor de Coimbra
– Francisco Fernandes de Figueiredo, colegial de s. Pedro, lente de cânones da universidade de Coimbra e cónego doutoral na Sé de Évora, faleceu em 1611.
– Francisco de Figueiredo e Mello, promotor do santo oficio.
– Gaspar Afonso da Costa Brandão, bispo do Funchal em 1703
– Capitão João Ribeiro de Figueiredo, cavaleiro professo da Ordem de Cristo, sepultado na Igreja matriz no ano de 1713.
– D. José Cupertino da Fonseca e Brito, juiz de fora, corregedor, desembargador honorário, secretário geral do Governo Civil de Coimbra e deputado às cortes constituintes em 1826.
– Alexandre Cupertino Castelo Branco, falecido em 1894
– Bernardo d’Abranches Freire de Figueiredo
– Conselheiro Albino d’Abranches Freire de Figueiredo.
– Joaquim Antunes Leitão exerceu a sua actividade no Porto onde criou a Empresa Literária e Tipográfica onde nomes como Camilo Castelo Branco e Guerra Junqueiro imprimiam os seus livros
– Joaquim Leitão, foi director do museu da assembleia nacional da restauração, inspector das bibliotecas arquivos e museus de Lisboa e secretário-geral da Academia das Ciências
6 – O rio, a agricultura e a floresta
Analisando o percurso do rio verificamos que ele descreve uma grande curva na zona de Vila Cova. Este serpentear do rio cria como que uma península onde o rio e o vale que o acompanha cria um enorme espaço de terrenos adjacentes às suas margens e que, segundo testemunhos, seriam terrenos muito férteis, o que é natural dado a morfologia do território envolvente, o que faria dos vila-condenses produtores de uma rica agricultura, que certamente produziria excedentes para trocas ou vendas nas povoações vizinhas ou mais longe aproveitando o rio que desagua no Mondego como meio de transporte
Por outro lado um conjunto de pequenos montes que envolvem a povoação onde se pode constatar uma floresta luxuriante, a existência de uma silvicultura rica e uma fauna que certamente tem proporcionado a caça de animais como o javali, o coelho e certamente em épocas mais recuadas o lobo e a raposa.
As condições naturais, favoráveis à agricultura e silvicultura, parecem estar ligadas do aparecimento de famílias poderosas com ligação às altas esferas da nobreza e do clero.
Pinho leal, em 1884, no seu Portugal Antigo e Moderno refere a riqueza de Vila Cova em produtos hortícolas: “milho, centeio, feijão, vinho, castanhas, azeite, e frutas variadas, muito saborosas, nomeadamente melões” e acrescenta: “Há n’esta freguezia dous lagares ou moinhos para moer azeitona e fabricar azeite e oito moinhos ou azenhas no Alva para moer cereais”.
7 – Vila Cova nos dias de Hoje
Vila Cova foi denominada durante algum tempo como Vila Cova de Sub-avô. Após a desanexação da povoação de Barril do Alva, decorrente da lei nº 1:639 de 25 de Julho de 1924 que deu origem à freguesia de Barril do Alva o nome ficou definitivamente Vila Cova do Alva.
Vila Cova tinha, em 1860, 1306 moradores e em 1920, 1364 moradores. A partir de 1924, com a desanexação da povoação de Barril do Alva, a população de Vila Cova diminuiu para metade e não mais recuperou, sendo actualmente de 569 habitantes, segundo os censos de 2001.
A actividade económica centra-se na agricultura de subsistência, pecuária, construção civil, exploração florestal. Não há indústria e a fabricação de produtos como a cestaria, principalmente a produção de canastras em tiras finas de madeira de castanho, deixou de se fabricar quando o último canastreiro deixou a vida activa. O artesanato tem-se desenvolvido principalmente na fabricação do Bucho de Vila Cova, Queijaria e Rendas.
A escola primária fechou por falta de alunos na década de 90 do século XX.
A Santa Casa da Misericórdia como IPSS tem desenvolvido um trabalho interessante no campo social no apoio aos idosos e criando alguns postos de trabalho, muito importantes dada a escassez de emprego que afecta estas pequenas povoações. As novas tecnologias minimizam o isolamento que o afastamento dos grandes centros urbanos provoca. Em Vila Cova o sítio da Santa Casa da Misericórdia http://www.miradourodevilacova.com/ da responsabilidade do Provedor Dr. Nuno Espinal e da sua equipa, leva Vila Cova do Alva aos quatro cantos do mundo.
A Filarmónica Flor do Alva, criada em 1918 soube resistir às dificuldades que certamente atravessou e é neste momento uma Associação de que os Vilacovenses se orgulham. A Escola de Música associada à Filarmónica permite o rejuvenescimento e o enriquecimento dos seus elementos.
O rio Alva continua a ser um motor de desenvolvimento económico para Vila Cova,
nomeadamente através da sua praia fluvial que é uma atracção turística que anima os dias quentes de Verão.
Ainda de referir o Grupo Desportivo Vilacovense que ocupa muitos jovens e lhes permite a troca de experiências, não só desportivas, mas também sociais, com jovens de outras localidades.
Bibliografia consultada
– GONÇALVES, Carlos Gabriel – Elementos para a história de Vila Cova do Alva. Arganil, Gráfica Moderna: 1936
– DINIS, António – Coja – I. [S.l. : s.n.], D.L. 1983. 122 p.
– ALMEIDA, Fortunato de – História da Igreja em Portugal. Nova ed.. Porto : Portucalense Editora, 1971. 4 vol.
– ANACLETO, Regina – Vila cova do alva: fragmentos do seu passado. In: Arganilia, 3ª série, nº 23 (2009)
– Estatutos da Irmandade da Misericórdia de Vila Cova de SUB-AVÔ- Coimbra: Minerva, 1890
– LEAL, Pinho – Portugal Antigo e Moderno. Lisboa : Cota D’Armas, D.L.1990.
– COSTA, António Carvalho da – Corografia portugueza e descripçam topografica do famoso reyno de Portugal… – Lisboa : na Off. de Valentim da Costa Deslandes, 1706-1712.
– Santos, Januário Lourenço – Vários documentos policopiados
– GONCALVES, António Nogueira, padre – Inventário artístico do Distrito de Coimbra : Concelhos e freguesias. [Lisboa : Academia Nacional de Belas Artes, 1952]. 21
– Loureiro, Carlos Gomes – Vila Cova de SUB-AVÔ. 1943. Documento
policopiado.
Mendes, Teresa Pinto. Documento policopiado do seu discurso na inauguração do novo edifício da Junta de Freguesia de Vila Cova em 1992.
– MATOSO, António G. – Ligeiras notas para a história do concelho de Arganil. Arganil : [s.n.], 1960. 28 p.