O Fotógrafo
António Nogueira Gonçalves, a par de todos os seus interesses, dedicou-se também à fotografia. Foi nos anos trinta director de uma revista dedicada à fotografia, e são da sua autoria quase todas as imagens que ilustram os seus estudos.
Ao longo da sua vida visitou inúmeras exposições quer de fotografia, quer de pintura e nos comentários tecidos em diversos artigos jornalísticos demonstra uma profunda sensibilidade estética.
“(…) Não, não basta para boas fotografias que se tenha uma boa máquina e que o assunto seja bonito. Bons pincéis, boas telas, óptimas tintas e lindíssimos assuntos têm tantos pintores e V. Ex.ª sabe o que aparece por esse mundo.
Para fazer boa fotografia é necessário saber os recursos do material que se emprega, as suas qualidades e deficiências, os seus limites; depois e acima de tudo possuir uma sensibilidade de verdadeiro artista, sabendo compor e compreender não tanto a luz mas as sombras.
E paisagem? Tem de aguardar dias e horas, o jogo da iluminação natural, estudar o enquadramento, a linha do horizonte, valorização dos planos. Que género de camada sensível, que filtro, que exposição, todos os planos focados ou só os primeiros? O resto é fotografia documental, quando muito, essa fotografia que se está acostumado a ver; arte fotográfica é outro mundo! (…)”
A Exposição fotográfica do grupo «Câmara»/ Nogueira Gonçalves
in Diário de Coimbra de 10.12.1948
Máquinas de António
Nogueira Gonçalves
“(…) A fotografia artística é muito diferente da que tem um fim documental e nada tem com a dos temas bonitos por si.
Foi o erro dos seus começos. Quiseram que ela fosse uma simples seguidora das realizações picturiais, quando tinha meios e fins próprios.
O assunto é independente da fotografia artística.
A fotografia, enquanto for a tradução a branco e preto das imagens reais, há-de ser a arte da luz.
A luz não é uma mera condição para que os objectos apareçam em fotografia, a luz é o fim da fotografia artística; não se buscam os objectivos convenientemente iluminados, mas aquela luz que dá aspectos novos aos objectos comuns.”
A exposição fotográfica do Gupo Câmara/ N. G.
In Diário de Coimbra de 03.12.1952
“Normalmente fotografava monumentos. E era capaz de estar um dia à espera de o sol bater com determinada incidência na peça que queria, para a fotografar nesse momento. As fotografias dele tinham sempre uma enorme qualidade, justamente porque sabia como aproveitar a luminosidade. Não me recordo de ele tirar outro tipo de fotografias, a não ser aquilo a que se pode chamar “fotografia científica”.
Regina Anacleto