Caetano Lobo em Arganil


Simplesmente, o grande sonho da sua vida nunca se transformaria em realidade. É certo que ainda chegou a dar aulas na Faculdade, porém, unicamente em situação precária. Em suma: a Universidade de Coimbra rejeitara-o para professor! Por ser incompetente? Não, muito longe disso. Porquê então? Por preconceito racial? Tudo indica que sim! A «velha Universidade», esquecida da nobre vocação progressista que devia ser, verdadeiramente, a sua, fechara-lhe a porta de acesso à cátedra!

Amândio Galvão
In: Figuras Notáveis de Arganil

De nada valeu ao novel doutor provir da gente mais privilegiada da Grande índia; de nada lhe valeu ser de origem brâmane – a casta dos que, quando saíam à rua, se faziam anunciar previamente a fim de que os intocáveis se afastassem do seu caminho! Mas nisto de pergaminhos quem sabe deveras é a Universidade; e a velha Escola coimbrã – ela própria um pergaminho – lá entendeu, em seu alto critério, que, na circunstância, o intocável era o brâmane – e impediu-o de chegar a lente!

Amândio Galvão
In: Figuras Notáveis de Arganil

CAETANO LOBO EM ARGANIL

Arganil no início do século XX

Luís Caetano Lobo terá sido então convidado a vir ocupar o lugar de reitor e arcipreste nesta terra, onde foi efectivamente colocado a 4 de Julho de 1857; mas já no ano anterior aparece ligado à sua nova igreja. Quer dizer, em 1856, provavelmente, deixa Coimbra a caminho de Arganil, para aqui ocupar o lugar de reitor e arcipreste (no ano seguinte).

Amândio Galvão
In: Figuras Notáveis de Arganil

Uma vez em Arganil, foi, naturalmente, instalar-se na residência paroquial, ou seja na «Casa do padre» como então era conhecida. Esta residência, que ficava mesmo ao lado da igreja, no cruzamento das actuais ruas Caetano Lobo e Alberto Moura Pinto, foi há pouco demolida para dar lugar ao prédio que actualmente ali se encontra.

Amândio Galvão
In: Figuras Notáveis de Arganil

«Arganil, antes da nomeação do Dr. Luís Caetano Lobo para seu reitor, estava num atraso intelectual pouco mais que primitivo, sendo raros os filhos do povo que saibam ler e escrever. Condoído deste estado ele, o sábio ilustre, mete ombros a esta tarefa e, desbravando terreno quase virgem, começa a ensinar (…) os primeiros rudimentos de leitura e escrita, transformando a residência paroquial numa verdadeira escola, em que recebiam o pão do espírito centenas de crianças e muitos adultos. Pouco tempo volvido, tudo sabia ler: homens, mulheres e crianças bendiziam então, num coro uníssono, o nome do reitor.»

Carlos da Capela
In: Notícia da Vida do Padre Luiz Caetano Lobo

Luís Caetano Lobo chega a Arganil e de imediato se interessa e se integra na vida social, promovendo e estimulando a riqueza cultural do meio. Logo em 1857 Caetano Lobo traz a Arganil o Bispo de Coimbra, recebendo-o em sua casa com fidalguia e lhaneza. Caetano Lobo era já um homem conhecido na cidade universitária e isso prestigiava também a nossa terra. Em Arganil inicia Caetano Lobo uma verdadeira revolução no ensino das primeiras letras. É o irmão Fenelon que, com sua experiência e aprendizagem na Loja de Coimbra, “Pátria e Caridade”, desenvolve acção meritória e pioneira. O Conimbricense saúda a “florescente escola de Arganil” e apelida Caetano Lobo de “apóstolo do progresso”. António Feliciano de Castilho, no consagrado jornal Conimbricense, louva os méritos do professor de Arganil e, decerto, rejubila pela aplicação do seu método, método este levado à prática por seu “irmão” Caetano Lobo.

Carlos da Capela
In: Notícia da Vida do Padre Luiz Caetano Lobo


Vista Geral de Arganil